A primeira Biblioteca de Atibaia
O espaço era composto de uma mesa, seis cadeiras e uma estante que abrigava cerca de 150 livros de vários temas e autores.
Márcio Zago
Em maio de 1916 “O Atibaiense” publicou uma pequena nota informando que em breve haveria um Gabinete de Leitura em Atibaia, salientando tratava-se de uma iniciativa do “elemento feminino”. Dias depois, 28 pessoas se reuniram numa sala anexa da Igreja Matriz para escolher sua diretoria, que ficou assim definida: Presidente – Padre Francisco Rodrigues dos Santos (Padre Chico); Secretária – D. Ignez Nogueira; Tesoureira – D. Leonidia Barbosa; Bibliotecários – Joviano Silveira e Álvaro de Oliveira e mesários – D. Eponina Ribeiro, D. Lucila Alvim, D. Julia de Moraes e Prof. Domingos Mattos.
Em junho outro comunicado já informava o dia da abertura da biblioteca para o público, dia 01 de agosto de 1916, funcionando provisoriamente no Largo da Matriz, número 3. O espaço era composto de uma mesa, seis cadeiras e uma estante que abrigava cerca de 150 livros de vários temas e autores, além do estatuto, jornais, revistas e outros impressos. No estatuto sua dinâmica de funcionamento: “O Gabinete ficará aberto as quartas e sextas, das dezoito às dezenove horas”.
A Biblioteca, ou Gabinete de Leitura como chamavam, era mantida pelos sócios contribuintes que podiam frequentar o espaço e consultar os materiais disponíveis, ou então levar os livros para casa, se comprometendo a devolver em até quinze dias. Havia também os sócios beneméritos, que tinham certas benesses em razão de ter ofertado contribuições mais robustas ao espaço. No longo estatuto publicado no jornal um item chamaa atenção: a figura do censor, que tinha a função de avaliar quais livros entraria para o acervo.
A moral rígida da época, somadas a participação ativa da religiosidade (através do Padre Chico), limitava bastante o conteúdo da biblioteca. Os livros, segundo eles, deveriam ter um caráter educativo e moralmente aceito. Num artigo do Padre Chico ele ressalta que “somente duas classes de indivíduos não poderão fazer parte da associação: Os que não gostam de ler nada e os que somente gostam da leitura fútil, perniciosas”. Outro item do estatuto dizia respeito à obrigação da diretoria em realizar eventos literários de tempos em tempos.
E assim, em maio de 1917, um ano após sua fundação, foi realizado um grande sarau literário musical no espaço do Nordisk Cinema. Na programação constava um concerto de piano executada pela senhorita Conceição Urioste, a projeção do filme “O Império do Ciúme”, a apresentação da Banda Operária e uma palestra do Padre Chico intitulado “O que significa e o que vale a mulher” onde por mais de quarenta minutos o Padre Chico com “elegância e erudição” discorreu sobre o tema. O Gabinete de Leitura foi extinto por volta de 1935, quando seus fundadores resolveram doar os 259 volumes que ainda existiam da seguinte forma: 191 para o Clube Recreativo Atibaiano e os restantes para o Instituto de Hansenianos Padre Bento. Somente mais tarde, uma década depois, Atibaia volta a ter uma biblioteca: A Biblioteca Municipal Joviano Franco da Silveira, ativa até hoje.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.