A produção teatral se intensifica em Atibaia
Até fevereiro de 1904 quatro recitais já tinham ocorrido. Além dos espetáculosregulares, outras peças eram encenadas pelos amadores locais.
Márcio Zago
Naquele inicio de século XX o Grupo Dramático Carlos Gomes apresentava um espetáculo por mês em Atibaia. As apresentações, que nomeavam recitais, faziam parte de um acordo estabelecido entre o grupo e seus associados, lembrando que o ingresso eram os recibos de pagamentos da mensalidade. Até fevereiro de 1904 quatro recitais já tinham ocorrido. Além dos espetáculosregulares, outras peças eram encenadas pelos amadores locais.
Numa delas foi à estreia da senhorita Lucília Monteiro, que foi muito bem recebida pelo público, revelando-se bastante talentosa como atriz. Esse espetáculo foi em benefício de Pedro Palhares, integrante do Grupo. Outro espetáculo beneficente foi com as peças “Procella e Bonança”, um drama, e a comédia “O Sapateiro”, desta vez para a atriz Nieves (Dolores Paganelli). Havia ainda as reapresentações das peças anteriores, configurando uma espécie de “repertório” do grupo.
Com o fomento da atividade teatral, o Grupo Dramático Carlos Gomes alterou a relação com seus associados: A partir de março de 1904, além das mensalidades, os contribuintes também pagariam os ingressos para assistir os espetáculos, como qualquer interessado. Mas nem tudo eram flores. Casas vazias e rebeldia do público também fazia parte do espetáculo. Assim publicou “O Atibaiense” em março daquele ano: “(…) A galeria portou-se pessimamente nesta noite, dando-nos mostra que ainda não compreendem que numa sociedade particular deve reinar o maior respeito, onde as expansões de aplausos devem ser manifestadas por palmas, e não com assobios e bate-pés próprio de gente sem o menor vislumbre de educação. Isto se refere principalmente a alguns meninos que mais perecem ordinários garotos que primam pela falta de educação”.
Como se vê tudo estava em formação, em processo de aprendizagem, com acertos e erros, até a formação de público. Em março ocorreu o quinto recital do Grupo Dramático Carlos Gomes com as peças “O Conde de Santo André” (drama) e “Um Criado Distraído” (comédia). A critica do jornal foi bem favorável: “(…) Coube a glória do dia aos amadores Napoleão Maia, no papel de Conde Santo André, parte esta dificílima de desempenho, saindo-se o mesmo muito bem, não se desejando melhor correção, dando nos um verdadeiro sínico, chamando por vezes a odiosidade da plateia. O Calixto foi muito bem no papel de João, dando-nos um menino simpático, interpretando perfeitamente sua parte de anjo bom da peça.
O Senhor Antônio de Almeida, corretíssimo. A senhora Nieves, como sempre, interpretou perfeitamente o seu papel dando-nos uma verdadeira mulher do povo, honestíssima, preferindo a miséria ao ouro que seduz e procura macular as virtudes. Enfim todos foram muito bem, como o senhor Totó Brazil e Manuel Marques, notando-se que dia a dia vão melhorando e se desenvolvendo na arte sublime de João Caetano. Finalizou o espetáculo com a chistosa e hilariante comédia “Um criado distraído” saindo-se otimamente todos os amadores que nela tomaram parte (…)”.E assim o teatro local ganhava reconhecimento do público ese firmava como importante ação social, levando entretenimento, conhecimento e formação para uma plateia ávida de atividades culturais.