O coreto da Matriz
Marcio Zago*
Numa breve pesquisa pela internet descobrimos que o coreto nasceu na China e foi trazido para a Europa na época das Cruzadas. Outros sites informam que surgiu dos movimentos liberais europeus, no século XIX, como forma de democratização de espaços para oradores e apresentações musicais. A verdade é que os coretos caíram no gosto popular dos brasileiros figurando com destaque na maioria das praças das cidades do interior.
Em Atibaia não foi diferente. Em artigo anterior vimos que havia um coreto na praça da matriz, já em 1865! No inicio do século XX ele não existia mais. Em 1904 a cidade ganha novamente um coreto, desta vez no Largo do Santo Cruzeiro e pouco depois o Largo da Matriz volta a abrigar os concorridos concertos musicais com a construção de um novo coreto. É dele que iremos tratar.
Localizado entre a Rua José Lucas e a porta da igreja, o coreto da matriz foi erguido graças a Câmara Municipal e inaugurado dia 7 de novembro de 1909, com a recém-criada banda musical União da Mocidade, regida pelo maestro Tapajara Pinto. No dia da inauguração a chuva intensa atrapalhou bastante as festividades: “(…) Infelizmente o programa que era variado e escolhido, não pode ser totalmente executado devido a chuva que, exatamente quando mais intenso ia o entusiasmo, caiu copiosamente interrompendo por completo e esplendida diversão (…)”.
De ferro e madeira, o “elegante” coreto serviu de palco para inúmeras apresentações musicais e leilões, além dos acalorados discursos políticos até janeiro de 1911, quando passou por uma reforma.
Em março de 1912 “O Atibaiense” informou: “Hoje, às 7 horas da tarde dar-se-á a inauguração do belíssimo coreto, sito ao largo da matriz desta cidade o qual na sua completa reforma foi aumentado em mais do dobro. Atualmente o elegante coreto comporta comodamente uma corporação de 30 figuras sem que haja o menor aperto.
Com a suspensão temporária dos concertos quinzenais, devido a falta de maestro na corporação, a Câmara Municipal, por proposta do digno prefeito Dr. Miguel Vairo, concedeu a verba que rezava para essa despesa, para o aumento e embelezamento do coreto que hora se inaugura, depois de ser otimamente reformado rivalizando-se hoje com os melhores do interior do Estado. Cabe pois ao digno Prefeito, ao qual também é confiado a direção dos trabalhos, todos os elogios, não só pela elegância que deu ao velho coretinho como também pela boa direção que fez aos trabalhos executando-os pelos modos o mais econômicos. Sob a sábia batuta do maestro Pedro Hilário, a corporação Lyra Atibaiense fará hoje, as 7 horas da tarde, o concerto de estreia (…)”. O artigo se referia à morte do jovem maestro Arnaldo de Moura, recém-contratado para reger a Banda União da Mocidade.
Este coreto durou até 1936, quando foi demolido na grande reforma que ocorreu na praça. Outros vieram, mas sem o histórico e a funcionalidades que tinham até então. A partir dos anos sessenta os coretos e as bandas musicais perderam seu protagonismo em função dos novos hábitos e costumes sociais. Hoje, o largo da matriz ainda mantém um coreto como ornamento estético. Além da polêmica em tornode sua permanência (ou não), este coretodesperta paixões pelovalor simbólico que carrega. Para muitos ele representa a cidade bucólica e romantizadado passado. Uma Atibaia soterrada pelo inexorável avanço do progresso, mas que permanece no imaginário coletivo através dos livros, das histórias, das velhas fotografias e,principalmente, na memória dos antigos moradores.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.