O sistema financeiro na agenda sustentável e na igualdade social
Wagner Casemiro
Um novo papel para o sistema financeiro na conjuntura socioeconômica global pós-pandemia, com o direcionamento de recursos a projetos de desenvolvimento que priorizem a agenda sustentável e a equidade social. Tanto a economia global quanto a sociedade mundial enfrentam “profundos desafios humanitários e climáticos decorrentes do modelo de desenvolvimento predatório em relação ao meio ambiente, excludente em relação a grupos humanos”. Além disso, a situação foi agravada com a crise econômica e sanitária provocada pela pandemia.
A descrição desse cenário é do diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Sérgio Gusmão, em palestra que comemorou os 75 anos da Faculdade de Economia e Administração da USP, cujo tema central foi “A Construção de uma Nova Era”. O executivo fez relato histórico do sistema financeiro brasileiro desde o início do século 20 e falou sobre o papel das instituições financeiras frente aos desafios contemporâneos da economia global. “O sistema financeiro pode e deve jogar seu papel central na transformação da economia, direcionando sobretudo sua liquidez mundial para materializar o novo desenvolvimento. Ao selecionar projetos de investimento para irrigar com recursos, torna-se portador de futuro, podendo atuar como articulador das agendas de desenvolvimento sustentável e impulsionando os ganhos de equidade, sustentabilidade e produtividade, que podem pautar a economia renovada”.
São “desafios” aos quais o sistema financeiro deverá estar conectado ao desempenhar seu papel na mobilização de recursos para a construção de um novo futuro em bases mais sustentáveis e inclusivas. Primeiro: como lidar com os “impactos da digitalização” sobre larga gama de setores e indústrias, “movimento que integrado às mudanças demográficas recentes terá papel preponderante na dinâmica de crescimento econômico de longo prazo nas principais economias globais”. Depois, o crescimento dos ativos digitais e as novas formas de interligação financeira que “exercerão pressões sobre o sistema monetário global, alterando de forma significativa o ambiente macrofinanceiro”. Na sequência, com “postura atenta e modernizante”, os órgãos reguladores poderão garantir a estabilidade dos mercados financeiros, ao mesmo tempo abrindo oportunidades de democratização no acesso aos serviços. Passos concretos nessa direção foram dados pelo Banco Central por meio da Agenda BC+, com o open banking e o Pix.
Quanto ao desafio da sustentabilidade e das mudanças climáticas, o sistema financeiro terá papel central na mobilização e canalização dos recursos públicos e privados para projetos alinhados a essa agenda e também ao desenvolvimento de metodologias e de classificação dos recursos em ativos verdes e sustentáveis. Além disso, deverá atuar na gestão de riscos climáticos e socioambientais dos projetos financiados e na implementação de estratégias de desinvestimento em setores altamente poluentes com carbono intensivo.
Outro papel do sistema financeiro nesta nova fase será lidar com as desigualdades estruturais e com a meta de garantir renda e trabalho decente para o conjunto da população. “O sistema financeiro tem papel relevante ao ofertar crédito e assistência técnica para empreendedores individuais, micro e pequenas empresas, além do desenho de produtos específicos voltados a mulheres, pessoas negras e outros grupos subrepresentados na atividade econômica”, apontou o executivo.
* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.