A prosa nas páginas d’O Atibaiense
Marcio Zago*
Jornalismo associado à literatura fez parte da imprensa até boa parte do século XX, no Brasil e no mundo. Escritores como Machado de Assis, Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, Euclides da Cunha encontraram no jornal o principal veículo de divulgação das suas obras, artigos, opiniões e críticas. Aqui na cidade a prosa integrou com regularidade as páginas do jornal “O Atibaiense”. Foram inúmeros artigos publicados desde seus primeiros números: de contos finalizados numa única edição aos folhetins – textos maiores divididos em capítulos.
Os temas e os autores variavam, mas prevaleciam às abordagens romantizadas da vida como “O Cantor de Serenata”, de França Junior, “A seta, a Asa e o Coração”, de Cahelle Mendes ou “O Romântico” de A.C. Com menor frequência apareciam assuntos inusitados como o conto “O Filho de Marte”, de J. David, publicado em 1908 que esbarrava na ficção científica. Além da publicação de autores consagrados, provavelmente retirados das revistas da época, “O Atibaiense”também abria espaço para os escritores e tradutores locais. Em 1905 uma pequena nota destacava: “Deste número em diante continuaremos a publicar nesta folha, em folhetins, que por algum tempo fomos obrigados a suspender, o romance escrito pela notável romancista italiana Carolina Inverniei, traduzido especialmente para este jornal pelo nosso talentoso colaborador Sr. Alfredo André”(tratava-se do folhetim “O Romance de um Pequeno Mulato”).
A polêmica literária também fazia parte das páginas do jornal em diferentes períodos. A maioria em relação à disputa entre as qualidades literárias dos opositores, chegando mesmo, num dos casos, a precisar da intervenção do redator para acalmar os ânimos mais exaltados antes que chegassem as vias de fato. Em 1916 faleceu José Antônio Silveira Maia, fundador do Atibaiense e grande admirador da literatura e das artes em geral, encerrando a primeira fase do jornal.
Quem assumiu seu posto foi o jovem poeta e intelectual Joviano Franco da Silveira,enfatizandoainda mais a literatura em suas páginas. Utilizando pseudônimos como Catão, Neto, Roberto Nemo, Myself, Jacques de Chabannes e outros o jovem editor deixou registrado inúmeros artigos de sua autoria nas áreas da filosofia, além de poesias e contos. Infelizmente Joviano Franco da Silveira atuou por pouco tempo como editor do jornal, falecendo meses depois de assumir o cargo.
Mais tarde, nas décadas de quarenta e cinquenta, o empresário César Mêmolo assume o jornal “O Atibaiense”retomando este caráter literário graças a um grupo de intelectuais formados por André Carneiro, sua irmã Dulce Carneiro, César Mêmolo Junior e outros. Primeiro com a criação dos “Cadernos de Leitura”, inseridos no próprio jornal, depois com o encarte “Tentativa”, que foi a maior ação literária do município até a presente data. “Tentativa” foi considerado na época o melhor jornal literário do Brasil ao reunir em suas páginas os maiores expoentes da literatura nacional com textos inéditos e exclusivos.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.