A cerimônia do chá e o segredo do “CHA” na mediação
Eloisa Hashimoto, advogada com especialização em Métodos Alternativos de Solução de Conflitos, está colaborando com esta coluna e enviou texto muito interessante sobre o segredo do CHA, não aquele aspecto da cultura dos orientais. A cerimônia aqui é outra. O acrônimo “CHA”, criado por Scott Parry em “The quest for competencies” (1996), foi traduzido por Conhecimento, Habilidade e Atitude, considerados como pilares da competência profissional.
Esses pilares podem se aplicar aos Métodos Adequados de Solução de Conflitos (MASCs) e à postura esperada dos mediadores. Segundo Parry, o Conhecimento é o saber, tudo que aprendemos na vida escolar, acadêmica, profissional, social e familiar, lembrando ao leitor que aprender não quer dizer utilizar efetivamente o que nos foi ensinado; a Habilidade é o saber fazer, é colocar em prática o conhecimento adquirido, já que, sem conhecimento, é muito difícil desenvolver habilidades; e o último pilar é a Atitude, o querer fazer, a forma subjetiva que o indivíduo manifesta em determinada circunstância.
O “pulo do gato” reside não só na atitude, mas na atitude com foco, utilizando o conhecimento para desenvolver habilidades que permitam executar bem as tarefas e atingir os objetivos. Como aplicar o método do CHA na mediação e conciliação? Colocando-se o mediador no citado tripé, tendo por base o texto de André Gomma (“Políticas públicas para formação de mediadores judiciais. Uma análise do modelo baseado em competências”, Meritum, BH, 2012). Por esse modelo, entre as competências essenciais estão: ser um catalisador de negociações, recontextualizador da situação conflituosa, ter o domínio da palavra para propiciar abordagens dialógicas, narrativas, circular-narrativas e assim por diante, sempre atento ao nível dos mediandos, fazendo suas colocações de maneira que todos compreendam, com linguajar e tom adequados, observando vocabulário compatível com o nível cognitivo das partes.
Observa Gomma que a falta de formação adequada dos mediadores traz respostas substancialmente negativas às sessões, correndo-se o risco do descrédito dos operadores do Direito e da própria população. Sem ter o conhecimento adequado, o indivíduo não tem como colocar em prática o aprendizado, porque não lhe foi ensinado. E a formação, o Conhecimento, está intimamente ligada à Habilidade.
Como o último pilar é a Atitude, o bom mediador tem a linguagem como principal ferramenta. Se o mediador não teve conhecimento sobre as competências comunicativas, como poderá desempenhá-las? Gomma cita ainda a importância da escuta ativa. Ora, nossa cultura é a cultura do “orador”, não do “escutador”. Muitas vezes, o mediador se confunde com um padre, dando sermões aos mediandos. A habilidade de ouvir não nos foi ensinada. Não há cursos de “escutatória”, mas há inúmeros cursos de “oratória”.
Temos que conhecer, aprendermos antes para sermos hábeis depois e posteriormente nos apoiarmos sobre o pilar da Atitude. Assim, apoiado sobre o tripé Conhecimento, Habilidade e Atitude, o mediador analisa o litígio, a reação das partes perante a sua fala, estimula as partes a refletirem sobre as consequências no curto, médio e longo prazos, e estimula escolhas conscientes diante das várias soluções possíveis. Caso se equilibre sobre dois pés ou dois pilares, corre o risco de desabar e ter resultado ruim. Aqui, o mediador “torna-se” o mestre da cerimônia japonesa do chá que, mesmo sendo muito experiente, continuará treinando a disciplina durante toda sua vida.