Os artistas plásticos no início do século XX em Atibaia
Assim como na fotografia, nas artes plásticas também era comum à cidade receber artistas visitantes para exercer sua profissão.
Marcio Zago
Como hoje, a maioria dos artistas plásticos do início do século XX desdobrava-se para manter sua profissão e sobreviver com ela. A não ser que fossem artistas famosos! Em Atibaia não foi diferente. A primeira informação a este respeito, garimpado nas páginas do jornal “O Atibaiense”, remonta 1902 quando Jerônimo Momo paga um anúncio para divulgar sua arte. Além de seu nome em letras garrafais, o “reclame” dizia: “Pintor, decorador e dourador. Encarrega-se de todo e qualquer trabalho relativo à arte da pintura, decoração, em papelamento de casas, etc. Se aceita imagens de qualquer evocação para encarnar, altares para dourar, etc. Os seus preços são os mais módicos possíveis e seus trabalhos são os mais perfeitos possíveis, competindo com os similares da Capital do Estado. Residência provisória – Hotel Tagnarelli”.
Por esse pequeno anúncio concluiu-se: O artista tinha de ser múltiplo e explorar outras formas paralelas de arrecadação financeira com seu talento; A pechincha era comum, uma vez que o próprio artista já se prevenia quanto a seu baixo preço; Tudo que vinha da capital (leia-se grandes centros urbanos) era melhor do que era produzido no interior (Premissa que existe até hoje!); Por fim, o fato de o artista fornecer o endereço de um hotel supõe que ele veio de outra cidade. Assim como na fotografia, nas artes plásticas também era comum à cidade receber artistas visitantes para exercer sua profissão.
A elite local queria ter suas feições eternizadas e para isso só havia duas maneiras: pela fotografia ou pela pintura. O registro cinematográfico ainda era incipiente e só chegou ao grande público bem mais tarde. Nesse período o artista plástico executava seu serviço numa localidade e depois se deslocava para outra cidade.
No caso de Jerônimo Momo foi um pouco diferente. Ele acabou fixando residência aqui e até participou de manifestações culturais diversas, como pintar cenários para as peças do Grupo Dramático Carlos Gomes e mesmo trabalhar numa de suas peças como ator. Ainda em 1902 o artista João Gualberto, de Bragança Paulista, também veio oferecer seus serviços ao município. Ele prometia nos anúncios “reproduzir qualquer photographia em crayon” e para provar seu talento montou uma pequena exposição na própria redação do jornal “O Atibaiense”, local onde também efetuava as negociações com seus clientes.
Outro artista vindo de outra cidade foi o italiano Victorio Greco, que mais tarde também fixou residência no município abrindo à primeira “escola particular” onde, além do italiano, lecionava desenho e pintura aos meninos da cidade. Sua residência era na Rua José Alvim – Largo do Rosário – vizinho do ferreiro Bevillacqua.
Em seu anúncio o pintor e decorador prometia realizar “qualquer trabalho no ramo da decoração, encarnação de imagens, monogramas, paisagens, frutas, flores, fingimento de madeira e mármore. Feita a melhor casa em São Paulo (artnoveaux)”. Os artistas plásticos daquela época tinham outra opção, que naturalmente eram praticados pelos artistas mais afamados: pintar ou esculpir retratos e bustos de figuras importantes do meio social, mas isso fica para a próxima oportunidade.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.