E surge o Grupo Dramático Carlos Gomes
Na cidade os artistas tentavam se organizar e ocupar o espaço deixado pela extinta agremiação.
Marcio Zago
No final do século XIX findava também o primeiro grupo dramático de Atibaia, mas o século XX trouxe novos ares para a cena teatral do município. Tempos marcados pela presença de atores vindos de fora como da Companhia Dramática F. Mattos & Comp., da Companhia dos Pygmeus ou ainda da Companhia Brandão, muito popular na época. Na cidade os artistas tentavam se organizar e ocupar o espaço deixado pela extinta agremiação.
Em 1902 surgem as primeiras informações sobre o fato. José Franco da Silveira, que participou do primeiro grupo de teatro, se junta a outros amadores locais e fundam o “Grupo Dramático” tendo como Presidente o Dr. Castello Branco. Os demais integrantes foram Antônio José de Almeida,Napoleão Maia, Pedro Palhares, Salles Bastos e Juvêncio Fonseca. Os dois últimos ligados à música. Ajudando a elaborar o estatuto estava Aprígio de Toledo. Havia até uma peça escolhida para a estreia: “Gaspar Serralheiro” ou então “Greve dos Operários”.
O jornal”O Atibaiense” convocava novos adeptos para se integrarem ao grupo: “…é de esperar que todos os antigos amadores do Teatro concorram, bem como as Exmas. Senhoritas amantes da musica, por quanto as diversões que pretende organizar o dito Grupo serão teatrais, concertantes e não deixando de haver sempre a parte dançante”.A despeito dos esforços, durante um ano nada aconteceu até chegar à cidade Alexandre Paganellie Dolores. A partir daí tudo mudou. O casal eram atores profissionais da Companhia de Variedades dirigida pela Sra. Quintano, que circulou por várias cidades da região. Em Atibaia a companhia se apresentou por duas vezes em razão do enorme sucesso que fazia uma de suas atrações: A pequena atriz Julia. A criança de onze anos se apresentava com seu irmão Júlio, de oito, interpretando e cantando cançonetasde gosto popular. Provavelmente tocados pelo encanto da cidade, o casal Alexandre e Dolores Paganellia bandonaram a Companhia de Variedades da Sra.
Quintano numa de suas apresentações na cidadee passam a residir em Atibaia. A partir daí a cena teatral do município ganha impulso e se estabelece pelos próximos anos. Assim que fixou residência na cidade o casal reorganizou os amadores locais e juntos criaram a “Sociedade Recreativa Carlos Gomes”, que ficou assim estabelecida: Presidente – José Franco da Silveira (aparece também nos dois primeiros grupos de teatro da cidade); Secretário – Antônio Brazil; Tesoureiro – Accácio Cunha; Encarregado do estatuto – Sr. Cap. Napoleão Maia e Antônio de Almeida; Orquestra – Salles Bastos e Juvêncio Fonseca. A Sociedade Recreativa Carlos Gomes também tinha atuação mais generalizada, incluindo a organização de bailes, festas e do carnaval, mas o teatro era o objetivo principal através do”Grupo Dramático Carlos Gomes”. Um mês depois de estabelecido na cidade Alexandre Paganelli leva a cena o drama, em dois atos, “Amor e Honra” e a comédia “Um Julgamento no Samouco”.
O espetáculo, realizado em seu benefício, teve ampla divulgação na cidade e foi grande sucesso. Nota-se que havia uma preocupação financeira em manter o casal na cidade, a ponto de realizarem um espetáculo onde o dinheiro arrecadado fosse dele, demonstrando profissionalismo por parte dos envolvidos.
Com isso estava selada a parceria entre o casal Paganelli e o teatro local, resultando em inúmeros espetáculos que marcariam de vez a história do teatro no município.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.