A economia alemã continua oferecendo muitas lições para nós

Wagner Casemiro

 

A Alemanha foi sempre citada, nas últimas décadas, como exemplo de economia pujante e de capitalismo com enfoque social. Mas a pandemia do coronavírus causou uma crise sem precedentes na história desse país desde o pós-guerra. Apesar de alguns analistas tentarem demonstrar otimismo, o pior parece ainda estar por vir. Será mesmo, caros leitores?
Alguns futebolistas querem fazer piada com o desempenho, indicando que é a “volta do cipó” dos 7 x 1 entre as seleções alemã e brasileira naquele trágico jogo. Mas, falando seriamente, o número é gritante, se pensarmos na série histórica: uma queda de 10,1%. Nunca na história da Alemanha nos últimos 70 anos a economia do país despencou tanto quanto em 2020, nem quando a economia global estava à beira de grande crise financeira em 2009.
Segundo artigo publicado pela emissora internacional Deutsche Welle, nada disso é surpreendente quando as fábricas não estão produzindo, os navios porta-contêineres não são carregados, os serviços deixam de ser prestados, as feiras de negócios não acontecem e os restaurantes precisam permanecer fechados. A questão é saber se a queda de dois dígitos não voltará a acontecer. De plantão, adivinhos tentam imediatamente olhar para frente e apontar que, após o alívio de lockdowns e vacinação eficiente, o motor econômico fique ligado novamente e que o fundo do poço seja superado.
Observadores críticos reconhecem a possibilidade de reviravoltas, colocando o país novamente no caminho do crescimento. Outros observam que há “visivelmente menos pessimismo” entre as empresas. Tudo isso não requer nenhum conhecimento profundo do assunto: afinal, o governo alemão lançou o maior pacote de estímulo econômico já imaginado, que rapidamente produziu impacto. É como sair de um porão escuro: você verá o primeiro raio de luz relativamente rápido, mas as boas notícias podem passar depois desse ofuscamento.
Por mais benéficos que sejam as isenções e os bilhões do pacote de auxílio estatal, a melhoria pode simplesmente encobrir problemas que muitas empresas tinham antes mesmo da pandemia. Se o auxílio do governo não vier por um bom tempo, será extremamente difícil para muitos.
“Essa pergunta precisa ser respondida: por quanto tempo o Estado pode manter essa proteção, proteger as empresas da falência e intervir no mercado? Faz parte do dia a dia de uma economia de mercado que empresas desapareçam porque não conseguiram suportar a tempestade de uma crise. Uma em cinco empresas está vendo sua existência ameaçada pelo coronavírus, de acordo com pesquisa do Instituto Ifo, de Munique”, apontou a DW.
A seguradora de crédito Euler Hermes previu uma “onda sem precedentes de falências”, que pode atingir qualquer setor. Aviação e turismo estão particularmente em risco, além do varejo e das tradicionais lojas de departamento alemãs. Ainda segundo a Deutsche Welle, a situação na indústria automotiva – no mesmo barco com fornecedores de médio porte ou fabricantes de máquinas – é igualmente sombria em cenário de declínio “perceptível ou sério” na demanda e representa ameaça real ao mercado de trabalho.
A economia alemã, extremamente orientada para a exportação, provavelmente sofrerá tanto quanto seus importantes compradores, como os EUA, o Brasil e a Índia, que ainda não superaram a pandemia. Outro problema: o número de empresas altamente endividadas e com lucros baixos está aumentando drasticamente. Não apenas na Alemanha, mas também em outros países da Europa e nos EUA. A consequência: os lucros não serão suficientes para pagar os juros. É um círculo vicioso.
Os alemães temeram diante dos possivelmente tenebrosos outono e inverno, mas certamente ficaram mais animados com a recém-chegada do verão no hemisfério norte. O governo alemão deve analisar onde mais pode ajudar e como o pacote de estímulo econômico pode ser reajustado. Acima de tudo, o auxílio estatal para os trabalhadores que tiveram sua carga reduzida deve ser prorrogado, e a lei de falências, adaptada, roteirizou a DW. Pelo menos até quando a crise do coronavírus permita virar o jogo.

* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.