Corporação Musical 24 de Outubro completa 90 anos
O nome 24 de Outubro celebra a vitória da Revolução de 1930.
Márcio Zago
Em 15 de fevereiro do remoto ano de 1931, o antigo coreto da Praça Claudino Alves foi palco da primeira apresentação da corporação musical que se tornaria a mais longeva do município: a Corporação Musical 24 de Outubro. São noventa anos de atividade, seja alegrando os festejos municipais, seja contribuindo na formação musical de inúmeros instrumentistas que por lá passaram. As corporações musicais do passado, além de seu objetivo artístico, tinha um viés politico em sua criação e manutenção, representando a materialização simbólica de determinado grupo politico.
No período de formação da Corporação Musical 24 de Outubroexistia outra corporação musical, a Banda 1° de Março, fundada em 1925 pelo Major Juvenal Alvim, do Partido Republicano Paulista.Com a vitória da oposição foi necessário criar uma nova bandaque tinha, entre outras, a intenção de prestigiar os comícios e as festasdo novo grupo politico representado pela União Democrática Nacional(UDN). Corporação Musical 24 de Outubro foi fundada em 30 de janeiro de 1931 peloCoronel José Herculano Bueno (Zico Paes), Dr. Álvaro Correa Lima, Major Sebastião Teodoro Pinto e Francisco Lamoglia Filho (oriundo de Piracaia, tornou-se o primeiro regente).
O nome 24 de Outubro celebra a vitória da Revolução de 1930, ocasião em que Getúlio Vargas toma o palácio do Catete, sede da República, no Rio de Janeiro. Como era de se prever, criou-se certa rivalidade entre as duas bandas musicais, rivalidade expressa no trajeto da RuaJosé Alvim. Quando a Banda 10 de Março passava por ela, parava em frente ao Cine Republica, de propriedade do Major Juvenal Alvim,dando os músicos as costas ao Bar do Silvio Russomanno, simpatizante da UDN.
Quando era a vez da Banda 24 de Outubro, acontecia o inverso. Virava-se para o Bar do Silvio dando as costas ao Cine República. Artigo irônico, mas emblemático dessa situação foi publicado na edição de 01 de março de 1931 do jornal “O Atibaiense”, assinado com o pseudônimo de “Indiscreto”, com o título “Curiosidade de um indiscreto” e texto relata: “Na passada sexta-feira, a certa hora do dia, foi à monotonia desta cidade quebrada com o som de uma banda de música que, subindo de uma das ruas da parte baixa da nossa pacata cidade, dirigiu-se, acompanhada de algumas pessoas, à frente de um prédio da Rua José Alvim, onde, segundo disseram, houve falação…A despeito das nossas pesquisas e indiscretas indagações, não nos foi possível saber do que se tratava: uns informaram que a festa era um regozijo de aniversário, diziam outros, porém, que a mesma prendia-se ao fato de ter-se encontrado aqui, naquele dia, um senhor de Jundiaí. Ficamos, afinal, na mesma, pois a nossa curiosidade não foi satisfeita”.
Tratava-se das comemorações do sexto aniversário da Banda 10 de Março que aconteceu em frente ao Cine Republicae regadas, naturalmente, com discursos políticos. Com o fim da Banda 1° de Março, em 1973, seus componentes juntam-se a Banda 24 de Outubro, encerrando as desavenças políticas partidárias.
A corporação musical 24 de outubro, ou banda branca como é conhecida graças a seu uniforme,adquiriu personalidade jurídica em 1960, recebendo a doação de um terreno de Zico Paes, um de seus fundadores. A construção da sede aconteceu com bastante sacrifício dos músicos e simpatizantes, mas principalmente graças aos esforços do baixista Léo Massoni. Obs: Para este texto, além da pesquisa no jornal “O Atibaiense”, recorri ao belo artigo do meu amigo Gilberto Sant’Anna intitulado “Réquiem para o maestro José Domingos Massoni.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.