Surge o Nugrati- Núcleo de Gravadores de Atibaia

Em 1968, a convite de alguns artistas locais,o gravurista Paulo Menten administrou um curso de gravura nas dependências do Museu Municipal João Batista Conti.

Márcio Zago

A gravura é uma especificidade dentro das artes plásticas e caracteriza-se pela possibilidade de reproduzir a mesma imagem através de uma única matriz. Técnica milenar, durante sua longa existência a gravura experimentou momentos de grande valorização até o quase esquecimento.
A década de sessenta, do século passado, foi um desses períodos de glória da linguagem. Em 1968, a convite de alguns artistas locais,o gravurista Paulo Menten administrou um curso de gravura nas dependências do Museu Municipal João Batista Conti. Muitos interessados apareceram e o curso foi um sucesso. Animado com as perspectivas futuras Paulo Mentenpassou a frequentar assiduamente a cidade, vislumbrando aqui a possibilidade de criar um polo de desenvolvimento da gravura. Na épocaPaulo Menten era um dos maiores incentivadores da linguagem no Brasil emantinha oNugrasp- Núcleo de Gravura de São Paulo, que funcionava no prédio da Fundação Bienal.
A ideia era fazer algo parecido em Atibaia. Em 17 de março de 1969 o jornal “O Atibaiense” publica: “Atibaia que já vem se firmando como uma das cidades de nosso interior que mais trabalha para difundir e divulgar a cultura e a arte acaba de criar, e já aberto a todos os interessados, o Núcleo de Gravadores de Atibaia, destinado a promover cursos, conferencia, debates e exposições sobre a arte da gravação. A criação desse núcleo foi sugestão do internacionalmente conhecido pintor e gravador Paulo Menten, que se propôs a orientar os trabalhos de uma série de reuniões dominicais a fim de difundir e divulgar a arte, e ministrar técnicas de gravação. Tal iniciativa foi muito bem acolhida por um grupo de elementos locais, entre os quais se encontram estudantes, artistas, e aficionados, que domingo última já se reuniram sob a orientação de Paulo Menten e formalizaram o núcleo. Desta primeira reunião participaram: Antônio C. M. Craveiro; AntônioPingitori, Carmem Zacarias, Deodato G. Almeida, Joaquim Gimenes Salas, Jurandir M. Craveiro; Paulo Sergio Monteiro da Costa; Regina A Salles Arakaki; Renato L. Junior; além do pintor Bernardo Antunes. Os interessados em participar ou conhecer as atividades do Núcleo de Gravadores de Atibaia poderão dirigir-se por carta ou pessoalmente ao Museu Municipal”.
Como é normal, o número de participantes diminuiu com o tempo, mas alguns artistas se destacaram na linguagem chegando a desenvolver sólida carreira artística. É o caso de Joaquim Gimenes Salas, Bernardo Antunes e Romildo Paiva. Várias exposições do Nugratiaconteceram em diferentes espaços do país. Por questões pessoaisPaulo Menten afastou-se gradativamente do grupo. As reuniões passaramentão a ser conduzidos pelo Bernardo Antunes e depois peloJoaquim Gimenes Salas, saindo do Museu e passando a funcionar numa escola de língua japonesa existente próxima à rodoviária. O Núcleo ainda sobreviveu por certo tempo, chegando a pleitear junto ao então prefeito Dr. Omar Zigaib uma sede própria. O local disponibilizado foi logo descartado. Tratava-se de um matadouro desativado, existente na descida da Carvalho Pinto.
O total abandono e degradação do prédio inviabilizava qualquer reforma sem um efetivo apoio institucional. Aos poucos o grupo perdeu sua força e cada um seguiu seu caminho em carreiras artísticas individuais. Embora nunca tenha formalmente existido, o Nugrati teve uma atuação significativa nos três anos de sua existência e justifica plenamente constar na história cultural da cidade.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.