O teorema das letras do mestre André Carneiro

 

Confesso que ainda estou descobrindo a riqueza artística do artista André Carneiro, escritor atibaiense que conviveu no século passado com grandes nomes do modernismo, foi agitador cultural e enveredou por praticamente todas as modalidades estéticas disponíveis. Está claro que a cidade ainda não despertou para a sua grandeza, mas isso é bem comum no mundo das artes e da cultura.
Recentemente, com a ajuda do organizador da Semana André Carneiro, o também artista Marcio Zago, fiz uma expo virtual no site e no Face da Câmara, revivendo em imagens uma mostra modernista que aconteceu em Atibaia há simplesmente 70 anos. Corri o risco de não ser compreendido, já que vivemos um tempo de polarizações e conflitos que atropelam o território artístico.
Ao mesmo tempo, retomei e terminei a leitura, iniciada no ano passado, do livro de Carneiro “O Teorema das Letras” (Devir). São contos fantásticos dentro do universo do fantástico – gênero literário – e da ficção científica. O crítico Fausto Cunha situou assim o autor: “Sua ficção se coloca na linha evolutiva que, abandonando o deslumbramento tecnológico inicial, avança para a consideração dos problemas humanos sob o ‘choque do futuro’”.
As narrativas têm poesia, inquietação, originalidade, ironia e aquela confrontação necessária dos grandes autores em relação aos costumes sociais, aos comportamentos padronizados, à repetição que comumente é apontada como adaptação, mas que não ajuda em nada a evolução da humanidade. Nesses textos, Carneiro aparece como um visionário, um homem de letras preocupado em mapear o mundo, olhando-o de todos os ângulos, sem medo de decepções e angústias. As possibilidades interpretativas se multiplicam.
Como posfácio do volume, temos um artigo do professor Ramiro Giroldo, muito esclarecedor e provocativo no sentido de aumentar ainda mais nossa curiosidade sobre a obra de André Carneiro. É uma avaliação que coloca o autor atibaiense num cenário amplo, para além de limites fáceis. Não por acaso, o nosso querido artista foi contista, poeta, ensaísta, fotógrafo e artista plástico. Não estamos falando de qualquer um.