Livro sobre escravidão já é um clássico da história brasileira
Estou na página 113 do livro “Escravidão – volume I – Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares” (Editora Globo, 2019), do jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor dos sucessos editoriais “1808”, “1822” e “1889”. É um texto primoroso, resultado de uma longa pesquisa. Você fica fascinado pela capacidade do autor na escrita e no estudo e também pelo aprofundamento da história.
Fiz um trabalho espiritual em que vi no astral parte do que foi a escravidão no Brasil e na África. Sofri bastante ao constatar nessa viagem no tempo que os nossos ancestrais passaram por situações terríveis e são ainda almas que perambulam em busca de paz. No livro de Laurentino, é impressionante a descrição do sofrimento de milhões de africanos, que foram escravizados por cidadãos de diversos países e utilizados como mão de obra barata para o florescimento do capitalismo colonial.
São corpos mutilados, seres que foram assassinados e jogados ao mar, nas travessias entre a África e as Américas, que foram submetidos a trabalhos forçados, desenraizados de suas culturas de origem. Querem violência maior?
Vejam um trecho do livro, que está na página 21: “Essa África de história milenar, berço da humanidade, de cultura riquíssima, complexa e diversa permanece como um desafio também para nós brasileiros, especialmente os de ascendência branca e européia, que mantemos com nossa raiz africana uma relação contraditória, marcada por duas atitudes extremas: de um lado, o mais cru preconceito racial; de outro, a celebração ufanista e irreal das heranças africanas, como nos festejos de Carnaval, sem reconhecer, entretanto, que os responsáveis por elas – os negros e seus descendentes – nunca tiveram o mesmo tratamento e as mesmas oportunidades usufruídas por brasileiros de outras origens”.
Está aí, possivelmente, a grande dívida da sociedade brasileira com esses irmãos. Sinto-me identificado até porque sou resultado do encontro entre as culturas africana, portuguesa e indígena. Às vésperas do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022, precisamos refletir sobre essa herança maldita e, principalmente, sobre as possibilidades de redenção e resgate. Nesse sentido, o livro “Escravidão” já é um clássico da história brasileira.