A história do ativismo digital
Por Luiz Gonzaga Neto
É incrível, mas o ativismo digital já tem 20 anos. O marco está nos protestos ocorridos em Seattle, nos EUA. Organizados pela internet, os manifestantes se posicionaram contra o livre mercado e tentaram impedir a realização de reuniões com sucesso.
Segundo matéria publicada no Nexo Jornal, ao longo de duas décadas a experiência de Seattle impulsionou o ativismo digital e inspirou, direta ou indiretamente, movimentos como o Occupy Wall Street (de 2011), o M15 na Espanha (2011) e o #YoSoy132 no México (2012). De Seattle a São Paulo Entre 2000 e 2002, o fotógrafo André Ryoki e o professor universitário Pablo Ortellado, autores de “Estamos vencendo! resistência global no Brasil” (ed. Conrad, 2004), registraram manifestações na capital paulista, alinhadas ao movimento antiglobalização de Seattle.
Para o sociólogo italiano Massimo Di Felice, coordenador do Centro de Pesquisa Atopos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), a “Batalha de Seattle” consolidou um novo tipo de interação, o “net-ativismo”. Autor do livro “Net-ativismo: da ação social ao ato conectivo” (ed. Paulus, 2017), resultado de dez anos de investigação acadêmica e diversos congressos internacionais, Di Felice analisa as formas de ativismo digital, não necessariamente o conteúdo das diferentes reivindicações.
Segundo o Nexo Jornal, o autor destaca três características do net-ativismo: articulação em tempo real entre o que acontece nas ruas e nas redes (como o “live blogging” e a transmissão ao vivo dos protestos); valorização do anonimato (as máscaras dos zapatistas e, depois, dos Anonymous, por exemplo); e recusa de lideranças de institucionalização das marchas, afastando-se dos partidos políticos tradicionais.
“Seattle consagrou um novo modelo de ativismo, que expressa novas formas de participação, interação e conflito. É resultado da relação entre indivíduos, dispositivos e dados na rede, com dimensão global”, disse ao Nexo o autor. Segundo o sociólogo, esse ativismo é diferente da política tradicional, pois “nasce” nas redes digitais e não se identifica com uma ideologia política única, à esquerda ou à direita. Etapas de uma democracia mais ágil, interativa e multimídia.