Caetano das Pedras

Ele foi o responsável pela criação do primeiro batalhão de Caiapó em Atibaia.

Márcio Zago

Caetano Avelino da Silveira, mais conhecido como Caetano das Pedras, foi o mestre congadeiro mais influente de sua época. Hoje, ele seria considerado um mestre griô, termo de origem africana que, nos últimos anos, ganhou destaque no Brasil. Os griôs são figuras reverenciadas pela comunidade como guardiões da cultura, essenciais para a preservação das tradições. Esses mestres asseguram, por meio da transmissão oral, a continuidade e a disseminação dos saberes e fazeres ancestrais. Cornélio Pedro d’Arboes é outro mestre griô contemporâneo de Caetano.
Ele foi o responsável pela criação do primeiro batalhão de Caiapó em Atibaia. Ambos os mestres compartilham o fato raro de terem suas trajetórias registradas em livros e periódicas locais. Esse reconhecimento é especialmente significativo, considerando que a cultura popular, na época, raramente era documentada pela imprensa voltada para a elite letrada e, portanto, refletia um recorte específico da sociedade.
A cultura popular, por sua natureza orgânica e espontânea, dificilmente alcançava esses espaços, a não ser pelas mãos de jornalistas sensibilizados pelas causas sociais e pesquisadores como João Batista Conti, que fez referência à contribuição de Caetano das Pedras para a cultura local no livro Atibaia Folclórica. Mestre Caetano se destacou como liderança respeitada entre os ternos de congo da época, em razão do vasto conhecimento que possuía sobre as congadas e outras tradições da cultura africana. Saberes que ficaram parcialmente eternizados na pesquisa realizada em 1937 pelo pesquisador e ex-prefeito João Batista Conti.
Nascido na antiga Chácara das Pedras, de onde veio seu apelido, o atibaiense Caetano era filho dos escravizados Joaquina e Manuel da Silveira e, segundo o jornal, viveu seus últimos anos numa casinha à beira da estrada que ia para a estação ferroviária de Caetetuba.
Casa que construiu sozinho, assim como a capelinha em louvor a São Caetano, que ficava ao lado. Por ocasião de sua morte, O Atibaiense publicou: “(…) Ultimamente alquebrado pela idade e pelos sofrimentos, mestre Caetano vivia da caridade pública, por não poder vender pelas ruas o amendoim torrado, antes anunciado com aquela sua doçura no falar: ‘Amendoim torrado, chega freguesia, se não compra hoje, compra outra veiz, se Deus quisé (…)’”. Quis o destino que mestre Caetano morresse em junho de 1939, aos 92 anos, no mesmo dia em que as congadas participaram pela primeira vez das festas juninas. Seu enterro teve o acompanhamento de todos os Congos de Atibaia, uma coincidência que permitiu um justo reconhecimento do povo simples pela grandeza e pelo significado de Nhô Caetano para sua comunidade e para o histórico cultural de Atibaia.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.