Centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire
Cem anos de revolução pelas mãos da educação libertária. Foto Jovem Pan
Anna Luiza Calixto
Professor, advogado, escritor, filósofo e um educador pela própria natureza, Paulo Freire é muito mais do que um nome inevitável ao se transitar pelos caminhos da educação nacional, mas foi uma figura humana sem precedentes, responsável pela proposta educacional libertadora presente em sua obra, não aplicada de forma prática nas salas de aula brasileiras, mas presente na formação acadêmica de homens e mulheres ao redor de todo o mundo, nas melhores universidades do planeta.
Paulo Freire afirmou querer ser lembrado como um homem que amou as pessoas, as árvores, as águas e os bichos. Um homem que amou profundamente. Um homem que alfabetizou cerca de trezentos trabalhadores em setenta e duas horas em Angicos – RN. Um homem que se dedicou pura e completamente ao exercício da libertação popular através das lousas brasileiras. Um homem que propôs uma forma de se educar através da mediação da realidade prática, da vivência social e comunitária. Um homem que acreditava na possibilidade de esperançar sobre a vida.
Preso e exilado durante a ditadura no Brasil, Freire foi pioneiro ao apresentar a possibilidade de educar e ser educado – como uma via de mão dupla, intersetorial e interdependente – como um ato político. Para muito além das citações de orelha de centenas de frases emblemáticas presentes na obra freiriana, o que ele nos deixa como herança fundamental é um legado, um pressuposto para uma nova história a ser escrita na educação brasileira.
Para Paulo e nós que nele acreditamos, o aluno nunca é só um aluno. Ele educa enquanto aprende. Assim como ele, o educador nunca é só um educador. Ele aprende enquanto educa. Mesmo porque educar não significa transferir conhecimento, mas construir um espaço em que a construção do conhecimento enquanto um bem compartilhado se faz possível e, mais do que isto, é real e passada adiante.
A educação como prescrevem os moldes freirianos é um instrumento de libertação e, mais do que isto, não pode se limitar ao espaço escolar, mas se expandir a todo espaço em que as pessoas se encontram e se reconhecem enquanto sujeitos sociais que compartilham o mesmo espaço-tempo e, assim, dividem a responsabilidade imprescindível de construção de um mundo mais justo e honesto.
“A esperança que não se organiza, morre.” – assim, o autor ilustra como é possível contrariar a educação bancária (na qual o aluno representa apenas um depositório de conhecimento no qual o professor despeja friamente seu saber acumulado) e produzir revolução ao acreditar na educação e esperançar. Viva Paulo Freire. Que cem anos se façam eternos através de sua pedagogia do amor, da troca e da esperança.