As Cavalhadas de Atibaia em 1943

O livro Atibaia Folclórica, de João Batista Conti, também dedica um capítulo ao tema, acrescentando informações complementares.

Márcio Zago

Em julho de 1943, o jornal O Atibaiense publicou uma extensa matéria intitulada “As Cavalhadas de Atibaia”, assinada por Nicanor Miranda, integrante do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo — órgão que teve como primeiro diretor o escritor e folclorista Mário de Andrade.
O texto, originalmente veiculado no jornal O Estado de S. Paulo, descreve com riqueza de detalhes os rituais e as performances da tradicional festa, oferecendo um retrato precioso das Cavalhadas realizadas naquele período. Mais de oito décadas separam o registro de Miranda do cenário atual, e por meio de sua descrição é possível perceber as transformações pelas quais a celebração passou ao longo dos anos.

 

O livro Atibaia Folclórica, de João Batista Conti, também dedica um capítulo ao tema, acrescentando informações complementares, embora tenha sido escrito posteriormente. Segundo o artigo de Nicanor Miranda: “As cavalhadas de Atibaia iniciam as festas anuais que se realizam no Natal até o dia de Reis, naquela cidade serrana. Começam e terminam no dia que precede as Congadas. Estas podem ser vistas nos dias 27 e 28 de dezembro e 06 de janeiro. As cavalhadas processam-se do seguinte modo: às quinze horas alguns cavaleiros começam a passear pelas vias públicas da cidade em grupos de dois ou três. Em menos de uma hora, o número de cavaleiros se eleva a mais de centena. Não mais passeiam em grupos de dois e três, mas em magotes de cinco, seis e até mais. Os participantes montam cavalos e burros, estes em pequeno número. Em 1942 havia 130 cavalos e somente 3 burros. Durante esse passeio preliminar os cavalos não são guiados nem a galope, nem a três pés, mas a passo de marcha ou trotão de estrada. Os cavaleiros não obedecem a qualquer percurso pré-estabelecido. Cavalgam absolutamente à vontade.”
Atualmente, as Cavalhadas ocorrem pela manhã, e não mais à tarde, como apontado tanto por Miranda quanto por Conti. Os passeios preliminares também foram abolidos. O que se observa hoje é apenas a movimentação dos participantes se dirigindo ao ponto de concentração — sem o caráter de exibição dos animais. Muitos cavaleiros vêm de diferentes bairros e até de municípios vizinhos. Sobre a presença de cavalos e burros, João Batista Conti esclarece: “Muito antigamente não eram permitidos éguas e burros, depois isso se modificou”.
Atualmente charretes, carros de boi e até touros de montaria também participam do cortejo. O artigo do jornal prossegue: “Às dezesseis horas, a banda de música vem postar-se em frente ao edifício da Cadeia e Fórum. Todos os componentes vestem um dos seus fardamentos oficiais: calça branca, túnica cor castanha com botões dourados, quepe da mesma cor da túnica, e na gola do quepe uma pequena lira metálica que serve de distintivo. A banda aguarda o início do grande desfile final dos cavaleiros para romper a música que dará às Cavalhadas alegria e imponência.”Hoje, as bandas musicais não participam mais das festividades e a Cadeia e o Fórum (atual Museu João Batista Conti) foram substituídos por outros locais como a Praça Guilherme Gonçalves.