O primeiro rádio amador de Atibaia
Sua loja conquistou exclusividade na representação dos equipamentos Telefunken, nomeação concedida pela Siemens Schukert S.A.
Márcio Zago
Em 1941, o jornal O Atibaiense publicou uma pequena nota com o curioso título “P.Y.Z.P.L.”. O enigmático código era, na verdade, o prefixo da primeira estação de rádio amador de Atibaia, uma iniciativa do comerciante Atílio Russomanno. Filho de imigrantes italianos, Atílio nasceu em Atibaia e dedicou grande parte de sua vida ao comércio local. Em 1927, fundou a Casa Russomanno, na Rua José Alvim, tornando-se o primeiro comerciante a vender aparelhos de rádio na região. Sua loja conquistou exclusividade na representação dos equipamentos Telefunken, nomeação concedida pela Siemens Schukert S.A.
Mas Atílio não se limitou ao comércio: foi também pioneiro na instalação de uma estação de rádio amador na cidade. Segundo a nota publicada em O Atibaiense, “com o prefixo acima (P.Y.Z.P.L.) e instalações num dos compartimentos de sua casa comercial, o Sr. Atílio Russomanno mantém nesta cidade, há algum tempo, uma estação de rádio amador, filiada à LABRE (Liga dos Amadores Brasileiros de Rádio Emissão)”.
Em uma época sem internet, o rádio amador representava uma forma inovadora de comunicação, permitindo o contato entre pessoas de diferentes cidades, estados e até países. Além do caráter científico, recreativo e experimental, a prática desempenhava um papel essencial em situações de emergência e desastres naturais, garantindo o fluxo de informações quando as redes convencionais falhavam. Durante enchentes, apagões e outras catástrofes, os radioamadores se tornavam um elo vital para equipes de resgate e autoridades. A nota do jornal concluía: “O Atílio, que é um ativo operador, já transmitiu mais de 150 mensagens para inúmeras localidades do país, tendo recebido no seu ‘shack’ – até agora o único existente na zona bragantina – diversas visitas de ‘corujas’ que também têm falado ao microfone da PY2 Pracalâmpada”.
Com o advento da internet, o rádio amador perdeu parte de sua popularidade, mas ainda mantém uma base fiel de praticantes, especialmente em regiões remotas e entre aqueles que valorizam a comunicação independente das grandes infraestruturas digitais. Graças ao tino comercial de Atílio, a Casa Russomannose tornou a mais movimentada da cidade. E como era a única a vender brinquedos na época, a loja ganhou notoriedade entre as crianças também. Suas vitrines natalinas, montadas com esmero e criatividade, tornaram-se uma tradição local, encantando gerações de consumidores.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.
