As consequências políticas da solidão no poder
A solidão do poder sempre foi um tema da mídia, do cinema, dos comentaristas políticos. Neste Ano da Graça de 2025, estamos vivendo, a partir de nossas cidades, mas também em dimensões continentais e planetárias, o problema do isolamento que sofrem os governantes, por movimentos próprios, de suas equipes e assessores, e das populações. Os ditadores – de direita ou esquerda – estão ainda reinando no mundo, relativizando democracias sólidas ou regimes que muitas vezes se aproximam de abismos entre seus interesses e os das pessoas comuns.
Os prefeitos não estão livres dessas consequências. Claro que se protegem quando contam com equipes sólidas e competentes. Mas – todavia, contudo -, se a produtividade técnica e a articulação política passam por influenciadores com escassa transparência , personagens obscuros de atividades eventualmente irregulares, a Coisa se complica, entendendo aqui como Coisa essa percepção de como estamos enquanto cidade ou unidade federativa, em matéria de seriedade, dedicação e compromisso social das autoridades. No ensaio “Verdade e Política”, a sempre incensada Hannah Arendt propõe uma reflexão sobre o lugar da verdade no ambiente público.
Essa relação entre verdade e política nunca foi tão delicada quanto nestes tempos de fake news, marketing pessoal dos governantes, preocupação excessiva com a imagem, de espaço público atropelado pelas redes sociais e por uma internet desinformada, muito longe da civilidade clássica das sociedades com mais história e tradição de autoridade. Os “gabinetes do ódio”, não importando sua coloração ideológica ou “religiosa”, se encontram com a certeza histérica das mentiras deslavadas, infelizmente consideradas como “ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do político ou do demagogo, como também do estadista”.
Segundo Juliana de Albuquerque, em artigo para a Folha, verdade e política nunca mantiveram uma boa relação. Já Catarina Rochamonte, em artigo para o Instituto Liberal, lembra o vínculo entre política e logos (“Onde cessa o falar, cessa a política”), apontando o valor, em meio a opiniões dissonantes, da opinião mais decorosa, mais útil, mais justa. “Tal tradição não confunde o logos com a verdade nem com o lógico em sentido estrito, mas compreende-o como uma espécie de razão comum, partilhada pelos homens, através da palavra”.
A política não pode sofrer de rigidez absoluta nem da posse da verdade, características das ditaduras. Sua “posse”, ao contrário, depende do diálogo, nas opiniões com sabedoria prática assentada no consenso. Nesse sentido, o político não é um ser privilegiado que deve governar, mas um cidadão cuja existência é compartilhada com todos os outros no espaço comum da cidade. Não há privilégio político, há a lei, porque a lei é concebida na partilha de valores aos quais todos se submetem livremente. Feliz Dia Internacional da Mulher a todas as nossas leitoras!