A importância do teatro na formação do histórico cultural de Atibaia

No final do século XIX, mais precisamente em 1884, por iniciativa do major Juvenal Alvim, surgiu o primeiro teatro da cidade.

Márcio Zago

Uma das gratas surpresas que tive ao pesquisar o jornal O Atibaiense foi descobrir a importância do teatro na formação do histórico cultural de Atibaia. No final do século XIX, mais precisamente em 1884, por iniciativa do major Juvenal Alvim, surgiu o primeiro teatro da cidade. No entanto, essa afirmação carrega incertezas, uma vez que há relatos sobre outra casa de espetáculos que teria existido nas proximidades do Largo Alegre, hoje Praça Bento Paes. A dúvida é reforçada pela crônica Santa Casa, de Francisco da Silveira Bueno, que menciona a existência de outro teatro no então Largo dos Enforcados, ou Largo do Cruzeiro, atual Praça Miguel Vairo. A diferença é que, sobre o teatrinho iniciado pelo major, encontramos inúmeras referências, enquanto sobre os demais não há registros concretos.
A importância do teatro na formação cultural de inúmeros atibaianos e atibaienses foi destacada por Francisco da Silveira Bueno em sua crônica Teatro. O texto descreve, com sensibilidade e precisão, a impressão que o teatro deixou nos moradores da época: “(…) Venho retroceder para Atibaia antiga, para aqueles tempos que ainda me surgem cá dentro da alma, cheio de ouro, cheio de luz, que luz e ouro foram eles, sendo tempos de infância. Oh! Como eu me achei tão outro naquela cadeira do Pavilhão! Já o recinto era diverso, nada se parecendo com o Carlos Gomes do velho Mercado. Pelas paredes, grandes cartazes desse outro teatro mudo, escritos em língua não minha, coisas que, naquele tempo, já revolucionavam o mundo, mas, que apenas se refletiam sobre Atibaia como luz de lua – friamente – e só depois é que nos empolgaram a todos, recuando para a penumbra das coisas velhas as cenas daquele antigo teatro do Paganelli.”
A beleza desse pequeno trecho se destaca ainda mais quando compreendemos as referências feitas pelo autor. O Pavilhão foi o primeiro cinema de Atibaia, construído em 1911 pelo empreendedor Deoclides Freire. Antes de ter um prédio próprio, o Pavilhão Recreio Cinema funcionou no teatrinho iniciado pelo major Juvenal Alvim. Conhecido como Teatrinho do Mercado, esse espaço ficava onde hoje é a entrada do estacionamento do Mercado Municipal e recebeu esse nome peculiar por fazer divisa com a área de frutas e legumes dentro do próprio mercado. Foi nesse modesto espaço teatral que o casal Alexandre e Nieves Paganelli fundou o Grupo Dramático Carlos Gomes, que teve grande influência na difusão do gosto pelo teatro entre nossos antepassados. O primoroso texto de Francisco da Silveira Bueno ressalta ainda a relação entre o teatro e esse novo “teatro mudo, de língua não minha”: o cinema. Mas essa já é uma história para a próxima semana…