O Rádio em Atibaia
A pequena nota publicada no jornal O Atibaiense em 1930 marca o início da modernização da comunicação em Atibaia.
Márcio Zago
Em julho de 1930, o jornal O Atibaiense anunciava: O Sr. Attílio Russomanno acaba de instalar em sua casa comercial um poderoso rádio Telefunken, com irradiações de São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. O Sr. Russomanno foi nomeado pela Siemens Schukert S.A., agente dos aparelhos Telefunken. Essa pequena nota marca o início da modernização da comunicação em Atibaia. Até então, a elite econômica era a única que podia ostentar um aparelho radiofônico em suas salas de estar.
A partir desse momento, porém, o privilégio começou a se estender a pessoas de menor poder aquisitivo, que também desejavam ter seu próprio rádio. A popularização do rádio trouxe uma nova dimensão ao lazer e à informação dos moradores, e rapidamente se transformou no principal veículo de comunicação de massa no Brasil. Antes disso, as notícias chegavam com atraso e eram escassas. Para os poucos que tinham acesso à leitura, os jornais eram uma opção, mas quase dois terços da população brasileira eram analfabetos.
O rádio mudou essa realidade, quebrando o isolamento e enriquecendo as conversas com informações que chegavam pelas ondas do rádio. As pessoas passaram a compartilhar um repertório comum de notícias, músicas e fantasias, alimentado por radionovelas, programas humorísticos, esportivos e de variedades. O memorialista Renato Zanoni descreve essa transformação: Pense no primeiro dia da instalação de um aparelho de radiodifusão em sua casa. Colocava-se o plug na tomada, girava o botão do dial, ouvia-se uma sequência de ruídos — roncos, uivos, gargarejos de asmáticos — até sintonizar uma estação. E então, como um milagre, a voz surgia transmitindo notícias e sugerindo compras de discos e livros. Os reclames das lojas, cosméticos e remédios soavam: ‘Não se aflijas, Catarina, já existe a Guaramidina!’; Assine o Estado de São Paulo; Discos RCA Victor, a voz do dono (A Guaramidina era um comprimido popular nos anos 1930 para gripes, dores de cabeça e cólicas).
Ainda segundo Zanoni, no livro Atibaia no Século XX, o rádio logo se tornou uma necessidade doméstica. Todos queriam ouvir músicas, notícias e rádio-teatro na voz de ídolos como Gastão Formente, Vicente Celestino, Orlando Silva, e as irmãs Carmem e Aurora Miranda. Marcas como Philco, RCA Victor e Zenith eram famosas, e os novos modelos apresentavam inovações como o “olho mágico”, que indicava quando o rádio estava ligado, e com dial de celuloide ou galalite, bem marcado e numerado. Mesmo com a possibilidade de adquirir aparelhos radiofônicos na própria cidade, a maioria dos atibaianos não tinha recursos para comprá-los, o que levou ao uso das transmissões radiofônicas por alto-falantes.
A Praça Claudino Alves foi a primeira a receber esse recurso com a “Rádio Propaganda de Atibaia”, inaugurada em 1940. Além de retransmitir a programação das rádios sintonizadas, a estação intercalava anúncios e comentários sobre a realidade local. Essa alternativa, no entanto, foi substituída pela crescente popularidade dos aparelhos de rádio, à medida que a indústria lançava modelos mais acessíveis ao público em geral. Em pouco tempo, o rádio se consolidou como um objeto de consumo indispensável e o mais importante veículo de formação e informação nacional, além de um poderoso instrumento de propaganda política que direcionou a vida dos brasileiros a partir dos anos trinta.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.