Os Paschoalinos
O nome Paschoalino vinha do ator Eugênio Pascoal, que dividia as apresentações com a promissora atriz Dercy Gonçalves.
Márcio Zago
Em novembro de 1931, o jornal O Atibaiense anunciou a despedida da trupe “Os Paschoalinos”, depois de uma exitosa série de apresentações no Teatro República. Em razão da calorosa acolhida dos atibaianos, a companhia decidiu esticar sua permanência na cidade buscando descansar e recarregar as energias antes de prosseguir a turnê pelo interior do Estado.
O nome Paschoalino vinha do ator Eugênio Pascoal, que dividia as apresentações com a promissora atriz Dercy Gonçalves. Em sua biografia, encontramos sua relação com Eugênio Pascoal. A infância difícil vivida em sua terra natal, Santa Maria Madalena (RJ), associada à precoce atração pelo teatro, levou a jovem Dercy, com apenas dezesseis anos, a fugir de casa agarrada na parte de baixo de um vagão de trem. Seu desejo era se juntar à Companhia de Maria Castro, uma trupe de teatro mambembe momentaneamente fixada na cidade de Macaé (RJ). Lá conheceu o cantor Eugênio Pascoal, com quem se casou pouco depois. Em 1927, ao iniciar sua carreira como cantora, deixa de usar o nome Dolores Costa Gonçalves e adota Dercy Gonçalves.
Em 1930 faz dupla com o marido para se apresentar por cidades do interior de São Paulo, sob o nome de “Os Paschoalinos”, chegando a Atibaia. A permanência no município rendeu inúmeras amizades ao casal, tendo uma relação maior com os amadores locais. Decidiu-se então realizar um festival artístico e apresentar a comédia “Casar para Morrer”, onde o elenco seria formado por profissionais paulistas, tendo a participação de um amador local: o ator Benedito Bartholomei. Na divulgação do festival constava que Paschoalino havia adquirido três magníficos prêmios na Casa Russomano, que permaneceriam expostos na vitrine da loja, e cada espectador que comprasse uma entrada teria gratuitamente um número com direito a sorteio das peças. Em dezembro, com o título “Eugênio Paschoal e seu festival artístico”, O Atibaiense publicou: “Há duas classes de atores no Brasil, assim disse o teatrólogo Décio Abramo, ora em recreio nesta cidade: Os que partem do Rio para todo o país, levando os últimos sucessos metropolitanos e os que voltam do interior para a Avenida Rio Branco. Os primeiros, quando partem, dizem adeus à família e não sabem quando voltam; eles vão cirandar pelos Estados, de cidade em cidade, num roteiro de glórias e… dificuldades.
Meses depois, às vezes anos, os cometas ressurgem na capital da República. São como heróis do princípio da civilização; voltam quase sempre cobertos de glórias e … sem dinheiro. Os cartazes da avenida ressuscitam atores que desapareceram pelas brenhas. A última vez que vi o nome de Eugênio Paschoal, o inquieto e talentoso Paschoalino, tinha ele chegado, havia pouco, do Amazonas… Agora nos encontramos de novo em Atibaia. Que destino heroico dos atores brasileiros. De fato, ele é um número sensacional e querido em toda parte. A plateia atibaiense já o conhece e vai agora, no seu festival em homenagem às famílias da localidade demonstrar o quanto o admira e estima. Um ator distinto como ele, é digno de todos os aplausos”. Na semana seguinte, com o título “Paschoalino teve casa cheia em seu festival”, o jornal publicou: “Não podia ter maior brilho o festival do querido e popular Paschoalino realizado na quarta-feira passada no Teatro República.
A mais fina plateia atibaiana ocorreu ao espetáculo artístico do apreciado comediante, cujo programa, organizado a capricho, teve uma realização feliz, dando ensejo a que revelassem o seu talento, além do Paschoalino, os seus inteligentes comparsas Santarelli, Dercy Gonçalves, Aracy Benevenuto e Benedito Bartholomei, este último nosso conterrâneo que, com facilidade, soube desempenhar o seu difícil papel na comédia “Casar para Morrer”. O ato variado proporcionou números interessantes e alcançou ruidosas palmas do público, pois, não faltou nele um turco desopilante no trabalho de Santarelli e uma “soubrette” completa, na representação da inquieta e desenvolta Dercy Gonçalves. Eugênio Paschoal, quer como ator e cantor, satisfaz plenamente, confirmando mais uma vez o conceito e a fama de que merecidamente goza. Um espetáculo assim é que a plateia atibiana desejava há muito assistir.
Parabéns ao simpático Paschoalino e desejamos que sua permanência nesta cidade seja longa”. Até o momento não foi encontrada qualquer informação sobre o retorno de Paschoalino à cidade, mas Dercy Gonçalves aqui esteve em várias ocasiões, chegando mesmo a ter seu nome sugerido para nomear um coreto de praça.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.