Rodrigues de Abreu, um poeta em Atibaia
Na área artística, tivemos a presença do pintor Benedito Calixto em 1911, que esteve aqui com a família para recuperar a saúde de sua filha Pedrina. Também tivemos a presença do maestro Leonello Chiochetti, vindo diretamente da Itália, em 1925, que esteve aqui com o mesmo propósito.
Márcio Zago
A reputação que Atibaia alcançou por suas qualidades climáticas vem de longa data. Já no início do século XX, o ar puro e a água saudável atraíam inúmeros visitantes, principalmente aqueles afetados por doenças respiratórias. Antes do surgimento do tratamento com antibióticos, a única alternativa existente era buscar condições favoráveis para uma cura espontânea, e o procedimento incluía um clima favorável.
Com essa finalidade, Atibaia recebeu inúmeros turistas que procuravam a cidade como opção terapêutica. Na área artística, tivemos a presença do pintor Benedito Calixto em 1911, que esteve aqui com a família para recuperar a saúde de sua filha Pedrina. Também tivemos a presença do maestro Leonello Chiochetti, vindo diretamente da Itália, em 1925, que esteve aqui com o mesmo propósito.
Foi o caso também do escritor Rodrigues de Abreu, que se estabeleceu na cidade entre abril e junho de 1927 na tentativa de se recuperar de uma tuberculose. O jornal “O Atibaiense” deu a notícia de sua presença através do colaborador Franco D’Alva. O artigo escrito no final de abril não poupava elogios ao escritor recém-estabelecido na Rua João Pires, número 29: “Atibaia, a bela e culta cidade da Bragantina, que eu conheço palmo a palmo, a velha e pitoresca terra de São João, em cujo meio desde a infância, passei dias a fio; Atibaia, urbe acolhedora, saudável e boa, habitada por uma gente simples e sincera, jovial e franca, tem, neste instante, a honra de hospedar em seu seio o extraordinário vate da ‘Casa Destelhada’ – livro que tem merecido o mais entusiástico e caloroso acolhimento e que, ainda há pouco, mereceu do importante órgão ‘O Estado de São Paulo’, num de seus mais longos rodapés, um justo, valioso e brilhante elogio (…).” O livro “Casa Destelhada” tinha sido publicado dias antes pelo amigo Cassiano Ricardo e recebeu inúmeros elogios. Rodrigues de Abreu, assim que chegou à cidade, fez uma visita à redação do jornal “O Atibaiense” e forneceu alguns artigos que foram publicados nas semanas seguintes.
O escritor nasceu em Capivari, interior do estado de São Paulo, localidade que também foi a terra natal de um velho conhecido de Atibaia: Amadeu Amaral. É dele a famosa frase “Atibaia, o paraíso quase possível na Terra”. Amadeu Amaral foi o grande incentivador de Rodrigues de Abreu. Segundo os críticos, a obra literária de Rodrigues de Abreu trafegava entre o simbolismo, o romantismo e o modernismo, merecendo a admiração de inúmeros escritores e poetas como Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e o jarinuense/atibaiano Silveira Bueno. Tísico desde a adolescência, Rodrigues de Abreu teve sua produção literária marcada pela tristeza e pelo sofrimento causado pela doença, que na época ainda trazia certa aura engrandecedora aos poetas.
Fama que vinha desde o século XVIII, período em que a doença era associada ao refinamento dos sentimentos e à sensibilidade às artes, presente nas obras do período romântico. José Roberto Guedes de Oliveira, na biografia que escreveu sobre o poeta, assim descreve a passagem de Rodrigues de Abreu pela cidade: “Havia um homem que, tentando inutilmente curar-se de sua doença profunda, atroz, resolveu morar por algum tempo em Atibaia. O ar da estância seria benéfico aos seus pulmões e poderia reanimá-lo para a vida. Triste sorte, porém, desse homem que, mal chegando à cidade, uma forte crise o deixaria horas sem poder articular uma palavra que fosse. E com a chegada de seus familiares distantes, sua boca angustiada conseguiu implorar: Bauru! Bauru! Bauru…” Rodrigues de Abreu foi então conduzido à cidade de Bauru, sua terra de coração, e lá faleceu cinco meses depois. Essa breve passagem do escritor pela cidade pode ter sido o primeiro contato de um modernista com Atibaia (mesmo que sua obra seja considerada pré-modernista). A presença mais acentuada do movimento modernista na cidade só ocorreu anos mais tarde, com as ações de André Carneiro e a Geração de 45.