A Opereta da Companhia Carrara

Carrara permaneceu por oito dias na cidade e realizou três apresentações.

Márcio Zago

No final de 1904 a Sociedade Recreativa Carlos Gomes realizou uma nova eleição para escolher a diretoria que faria a gestão em 1905. Foram eleitos Teóphilo Urieste para Presidente e Dr. Miguel Vairopara vice,Francisco Pierotti e Castro Faffe para tesoureiros, João Rubio e Joaquim Cintra para secretários e Aprígio de Toledo para orador oficial. A Sociedade, além de dar sustentação ao Grupo Dramático Carlos Gomes, também organizava bailes, carnaval e outras atividades recreativas e culturais. No teatrinho da cidade aconteceu o décimo quarto recital do grupo com as peças “João – O Corta Mar” e “O Ator e Seus Vizinhos”, repetindo a receita que sempre dava certo de apresentar um drama e uma comédia. Sobre as apresentações Aprígio de Toledo voltou a publicar uma critica no jornal “O Atibaiense” enaltecendo as qualidades de alguns interpretes como Antônio de Almeida, Napoleão Maia e Nieves Paganelli, mas reprovando outros como Benedito Carneiro e Antônio Brazil.
A peça “João – O Corta Mar” trazia a temática marítima e encantou o publico presente, principalmente pelos cenários e efeitos inusitados que apresentou, como na cena do incêndio na cabana do protagonista. Em fevereiro de 1905 aconteceu o décimo quinto recital com o drama “O Advogado da Honra” (de Salazar Guerreiro) e a comédia “Guerra aos Nunes”. Depois dessa apresentação o Grupo Dramático Carlos Gomes diminuiu sua intensidade de atuação. O próximo espetáculo só iria acontecer meses depois.
Neste espaço de tempo a cidade recebeu a Companhia Carrara, especializada em operetas e espetáculos de variedades que incluíam prestidigitadores e mágicos. Vindos de Jundiaí, a companhia Carrara permaneceu por oito dias na cidade e realizou três apresentações. Diferente de outros empresários, o diretor Arthur Carrara chegou à cidade antes do elenco para estabelecer contato com a oficialidade local e a imprensa, visando apoio para a divulgação dos espetáculos.Já com a previsão do número de apresentações que pretendia realizar passou a vender os ingressos antecipadamente. Entre as peças apresentadas estava “Honra ao Trabalho”, ou “A Greve dos Operários”, que fez grande sucesso. Num artigo do jornal “O Atibaiense” surge a descrição de um dos espetáculos: “No domingo último esta bem organizada Companhia Dramática e de Operetas despediu-se do nosso público com um espetáculo variado, constando de cinco partes, sendo a primeira preenchida com prestidigitações e mágicas pelo empresário Sr. Carrara, agradando muito o nosso público que não lhe regateou aplausos. A segunda parte contou do segundo ato dos “Sinos de Corneville”, que teve ótimo desempenho da senhorita Honorina Carrara e o ator Arthur Azevedo, sendo bisadas várias peças de cantos.
O ator Araújo Motta recitou dois lindos monólogos, desempenhando-os com muita perfeição, sendo entusiasticamente aplaudido. A quarta e quinta parte, para finalizar o espetáculo, constou do terceiro e quarto atos da “Capital Federal”, sobressaindo mais uma vez a senhorita Honorina Carrara e o senhor Luiz Carrara (…)”. Previsto para se apresentar em seguida no Teatro Carlos Gomes, de Bragança Paulista, a companhia enfrentou problemas com agendamento naquela cidade e decidiu seguir para Santo Antônio da Cachoeira (hoje Piracaia) para se apresentar no Teatro Santa Áurea, aproveitando as celebrações da Semana Santa. Naquele inicio de século XX era comum as companhias teatrais, circos, exibidores cinematográficos ambulantes e demais artistas oferecer trabalhodurante uma festa religiosa. Era uma das poucas oportunidades de reunir grande número de pessoas dispostas a se divertir e a pagar pela diversão.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.