Não existe desenvolvimento sem habilidade de comportamento

Por Vinicius Marchese*

Como presidente do CREA-SP, eu sempre bati na tecla de que para sermos bons profissionais, era preciso oferecer ao mercado de trabalho muito mais do que o diploma de engenheiro, de administrador, de contador, de médico, de professor. É preciso ter, intrínseco a nós, habilidades comportamentais que, em muitos momentos, chegam a ser mais importantes – acreditem – do que as habilidades acadêmicas.

Aqui em São Paulo, todos brincam sobre o “corporativês” de muitos de nós, o dialeto de comunicação corporativa cheio de “calls”, de “meetings”, de “invites”, e, no meio disso tudo, tem também o que chamamos de “soft skills”, que são estas habilidades comportamentais, que citei, para lidarmos com os nossos “heads” e “partners”. Brincadeiras à parte, e em bom português: precisamos nos humanizar.

As soft skills passam por alguns conceitos, como o de resiliência, de colaboração, de comunicação eficaz, de flexibilidade, de liderança e foco nos resultados. É um conjunto de hábitos que fazem com que nós sejamos profissionais humanos, em uma curva de desenvolvimento constante e, claro, comprometidos com os resultados.

Como um profissional vai crescer, sem saber ouvir feedbacks negativos? Como ele vai conseguir galgar projetos maiores sem ter habilidade de colaborar com os pares? Como ele vai conseguir convencer o seu grupo de que o seu projeto vale a pena, sem saber se comunicar ou liderar um processo? Como ele vai permanecer no mercado, se ele não tiver resultados?

Isso não é exigir de nós poderes que beiram à perfeição, mas fazer da nossa imperfeição, dos nossos erros, janelas de oportunidades. Eu, hoje, sou pré-candidato a deputado federal porque quero levar estes conceitos para o debate nacional e conseguir, no coletivo, criar leis que tragam à sociedade a percepção de que a nossa evolução, enquanto sociedade, vai muito além de vaga em universidade, de médico no posto de saúde… ela passa pela nossa evolução emocional.

Em um país em que a psicofobia é uma realidade, em que buscar autoconhecimento ainda é visto, por muitos, como “coisa de doido”, precisamos ocupar os espaços públicos e mostrar, na prática, que a exploração de habilidades comportamentais é tão importante quanto todas as outras oportunidades acadêmicas e sociais.

E estou falando não só do profissional do futuro, mas também sobre o cidadão do futuro. Porque nós somos seres sociais, muito além do trabalho que desempenhamos. Nós existimos em um universo de cidadania. Então, precisamos pensar, de forma cidadã, em como estimular as nossas habilidades comportamentais em prol de um estado de São Paulo melhor, de um Brasil mais justo e de um mundo que haja mais justiça.

É preciso ter seriedade, mas também leveza. É preciso ter conhecimento, mas também sabedoria. É por isso que é fundamental que compreendamos as soft skills como um passaporte para uma mudança sistêmica em nossa cultura, em nosso relacionamento social, em nossa vida pública e privada. É preciso repensar o nosso comportamento para construir um país de muito desenvolvimento!

Vinicius Marchese, engenheiro e presidente licenciado do CREA-SP e pré-candidato a deputado federal pelo Estado de São Paulo.