O grupo Dramático Carlos Gomes ganha a cena teatral atibaiana

A primeira apresentação ocorreu em 19 de setembro de 1903, com as peças “Amor e Honra” e “Um Julgamento em Samouco”.

Márcio Zago

Foi com o grupo Dramático Carlos Gomes que o teatro local ganhou aceitação social e notoriedade. Embora formado eminentemente por artistas amadores, a presença de Alexandre Paganelli e sua esposa Dolores, imprimiram uma ação quase profissional ao pequeno grupo teatral que se organizou naquele inicio de século XX. O casal trazia na bagagem a experiência que possuíam das grandes companhias onde trabalharam antes de se mudarem para Atibaia.
A primeira apresentação ocorreu em 19 de setembro de 1903, com as peças “Amor e Honra” e “Um Julgamento em Samouco”, cuja arrecadação foi revertida para opróprio ator Alexandre Paganelli, recém-chegado a cidade. No elenco os amadores Napoleão Maia, José Maia, Antônio de Almeida, Jerônymo Momo, Manuel Marques Pires, Calixto Rinaldi, Benedito Carneiro e R.T. Dos nomes citados, Napoleão Maia tornou-se mais tarde diretor do Grupo Escolar José Alvim, José Maia, ao que tudo indica, era o proprietário do jornal “O Atibaiense”, mas não encontrei qualquer informação a respeito, Jerônymo Momo era pintor e decorador, Calixto Rinaldi revelou-se o primeiro fotógrafo de Atibaia. Surge ainda o nome de Pedro Palhares, proprietário do Hotel Palhares, que já havia participado anteriormente de outras apresentações teatrais.
O espetáculo de estreia teve um público pequeno, mas ganhou uma critica bem favorável do jornal “O Atibaiense”: “No espetáculo de estréia foi ótimo o desempenho de todos os amadores, que com firmeza e garbo disseram bem os seus papéis não parecendo que, muitos entre eles, pisaram no palco pela primeira vez.
Napoleão Maia apresentou-nos um verdadeiro comendador, desempenhando perfeitamente o seu papel; o Calixto fez um papel especial, apresentando-nos um verdadeiro José, criado do comendador. Todos os amadores desempenharam divinamente seus papéis, assim como o nosso Antônio de Almeida, o Momo e a senhora do Sr. Alexandre (no drama). Na comédia salientaram-se o Palhares, na parte de Juiz e Manuel Marques, que por muitas vezes arrancaram aplausos da plateia.
Foi uma noite cheia, a de sábado,que nos deu o grupo dramático. Esperamos que essa novel sociedade não se esmoreça, que continuem a deleitar-nos para que ao menos nisto imitemos os nossos vizinhos, que sempre procuram distrações, e deixemos deste sistema monástico em que a mais de um ano jazemos. Avante o progresso e abaixo a monotonia!”. Os “vizinhos”, citados no texto, era Bragança Paulista que na época já possuía um Teatro para mais de mil lugares, o Teatro Carlos Gomes(Como se nota, o nome do compositor campineiro Carlos Gomes era bastante utilizado na época). Animados com os resultados obtidos, o grupo se organizou no mês seguinte, elaborando estatuto e elegendo seus representantes (assunto já tratado no artigo Surge o Grupo Dramático Carlos Gomes). A manutenção se dava pelos associados, mediante o pagamento de mensalidade, onde o recibo servia de ingresso para as peças. O sucesso foi tanto que meses depois foram alterados os critérios de adesão para novos associados. Além dos atores, o Grupo Dramático Carlos Gomes formou também um conjunto musical fixo, que acompanhava as encenações, liderado pelo maestro Salles Bastos e pelo músico Juvêncio da Fonseca.
A divulgação também era inovadora: A banda de música saia tocando pelas ruas da cidade anunciando novos espetáculos. Depois de formalizado,o Grupo Dramático Carlos Gomespassoua realizar apresentações mensais, sempre com novas peças que incluíam dramas e comédias. Durante o tempo em que existiu apresentou, religiosamente, um recital por mês. Passaram então a nomear as apresentações. O “primeiro recital” ocorreu em outubro de 1903, ocasião em que o teatrinho da cidade ganhou uma pequena reforma, acrescentando cenários novos trabalhados pelo pintor Jerônimo Momo, além de ser vistosamente ornamentado. As primeiras encenações foram às comédias“Os dois Surdos”, “Meias Solas e Tacões” e “O Marido Vítima da Moda”. Assunto para o próximo artigo.