A noite em que o samba foi para o Museu em Atibaia

O Carnaval deste ano não houve ou esteve limitado a festas particulares. Por isso mesmo, é interessante lembrar um episódio ocorrido em Atibaia em 2003. Era uma exposição no Museu Municipal sobre escola de samba de Caetetuba. “Foi um momento muito importante para todos os componentes. Eles entraram no museu como se estivessem entrando no Palácio de Versailles. Ficaram encantados em ver os seus trabalhos expostos e agradeceram muito emocionados”, lembra a jornalista e pesquisadora Celita Stamatiu.
O curador foi Jamil Scatena, mais conhecido do mundo político estadual mas sempre um entusiasta do Carnaval e da cultura popular, percussionista e autor do livro Atibaia Samba Escola de Samba. Ele escreveu um artigo sobre essa ocasião mas não conseguiu publicar, com o título de “A noite em que o samba foi pro Museu”.

FALA JAMIL!
“Estamos em 2003 e o nosso carnaval está leve e solto. O Desfile superconcorrido, pois contávamos com 12 Escolas, divididas em Grupo Especial e Grupo 1. Era um carnaval vibrante, disputado. Afinal, era o segundo ano da retomada do concurso carnavalesco que estava parado há quatro anos. Tínhamos o sambódromo no Bairro do Estoril, lá era a nossa passarela do samba. Bem, a então Escola de Samba Unidos da Reciclagem tinha como proposta apresentar, sempre que possível, enredos da nossa cidade. Naquele ano, deu-se o centenário do ex-prefeito, poliglota e autodidata João Batista Conti que, pelo seu relacionamento intelectual, recebia inúmeras personalidades do mundo artístico para um concorrido sarau no Hotel Rosário – hoje, Grande Hotel.
Diante desse fato, a Reciclagem houve por bem prestar homenagem àquele que tem seu nome no Museu da cidade e desfilar no Grupo Especial com o enredo “Artistas em Atibaia, esta noite tem sarau”, realizando um primoroso desfile, contagiando a avenida com um bom samba enredo, ficando um ponto atrás, assustando a imbatível Escola de Samba Independência.
UNIDOS DA RECICLAGEM
Mas a vitória da Unidos da Reciclagem veio depois. A então diretora do Museu Araceles Stamatiu, a Celita, ao saber do enredo e sabedora que a Escola tinha o hábito de registrar em fotos, o antes, o durante e o depois do desfile, viu que nada mais lógico seria convidar a Escola para uma exposição e assim prestar outra homenagem no centenário de João Batista Conti.
Lá foram os diretores e componentes da Escola montar a exposição sob a supervisão da carnavalesca Mariá Scatena. Pra situar, a Escola ficava do lado de lá da ponte, onde estava a grande maioria dos seus componentes; poucos, muito poucos conheciam o Museu! Fez-se então uma visita monitorada, partindo depois para a montagem das fotos, alegorias, instrumentos e fantasias que resultou num sucesso, ficando mais de mês; pudemos constatar a felicidade dos componentes ali expostos, levando seus amigos e familiares, orgulhosos de mostrar suas fotos no Museu da cidade.
Naquela noite, quem esteve no lançamento, testemunhou: o samba se fez presente no Museu com galhardia e estilo, ocupando seu merecido espaço, prestando justa homenagem a João Batista Conti: “aqui no tapete do samba eu canto mais alto/escuta meu povo a história que eu vou contar/Guilherme de Almeida chamou pro sarau no Rosário/o João Batista Conti mandou convidar…”.