O cinema como entretenimento social em Atibaia

Os filmes exibidos neste período eram de curta duração, produzidos num único rolo, o que permitia uma exibição de 15 minutos no máximo.

Marcio Zago*

A partir de 1903, com a chegada do cinematógrafo, o cinema nunca mais deixou de exercer suas atividade sem Atibaia. Logo em 1911, quando acorreram as primeiras projeções no “Recreio Cinema”, sua aceitação já foi enorme. “Está mais que visto: o cinema em Atibaia é um fato consumado, caiu no gosto do povo ilustrado… Sua falta seria um desastre” noticiava “O Atibaiense”.
Algumas especificidades técnicas moldaram a dinâmica destas apresentações. Os filmes exibidos neste período eram de curta duração, produzidos num único rolo, o que permitia uma exibição de 15 minutos no máximo. Eram necessários, portanto,de quatro a doze fitas para compor a programação, dependendo de sua duração (ou metragem como diziam). Entre um filme e outro havia a troca do rolo no projetor, além do intervalo, fato que aumentava bastante o tempo das exibições…Houve sessões que tiveram quatro horas de duração, incomodando bastante o publico pagante. Em janeiro de 1911 ”O Atibaiense” anunciava: “Segundo a opinião de muitas pessoas, ainda seria maior a concorrência se em vez de dois intervalos, suprimisse um, passando seis fitas em cada sessão. Teria mais concorrência e finalizaria o espetáculo mais cedo.
O espetáculo em duas sessões seria de maior proveito, pois tem pessoas que desejam assistir só seis fitas da primeira sessão, pagando somente meia entrada e a cobrança poderá ser feita na plateia aos espectadores que desejarem assistir outra sessão”. Em geral o gênero drama era o que mais agradava, mas logo surgiram os dramas históricos bíblicos, a tragédia, a comédia, os filmes naturais (quando a temática era sobre fenômenos da natureza) e por fim as biografias que passaram a fazer grande sucesso entre os assíduos “habitués” do espaço.
Alguns artistas ganharam simpatia do publico e eram anunciados com destaque nos jornais da época. Foi o caso do comediante Tontolini, personagem criado e interpretado pelo ator franco-italiano Ferdinand Guillaume. Logo os filmes coloridos também passaram a cativar os cinéfilos da época ao serem anunciados com destaque nos “reclames” dos jornais. Embora a pesquisa em relação à captação de imagem colorida já fizesse parte dos primórdios da linguagem, isso só acorreu mais tarde.
Nessa época os filmes aqui exibidos eram, provavelmente, coloridos artificialmente. Para isso havia duas possibilidades: O tingimento – processo simples e rápido, que consistia em mergulhar os filmes em tanques de tinta fazendo com que cada filme, ou trecho de filme, ficasse com apenas uma cor. Ou então a colorização quadro a quadro, que consistia no delicado trabalho de colorir diretamente sobre os minúsculos fotogramas, um de cada vez. O som, tratado em artigo anterior, completava o grande atrativo que foi o cinema em nossa cidade, no longínquo começo de século XX.
O cinema tornou então uma das únicas formas de entretenimento regular do município. Antes disso somente quando circos ou companhias teatrais por aqui aportavam, lembrando que as peças teatrais realizadas pelos grupos locais não eram frequentes. Foi o cinema que criou uma rotina sócio/cultural inexistente até então, quando passou a arregimentar, quase diariamente, a seleta elite Atibaia na em torno de programas culturais. E assim a cidade deixava para trás a pecha de “cidade triste,onde nada acontecia”, cunhado por Afonso de Carvalho numa crônica da época, e se abria para a possibilidade de um novo porvir civilizatório.