Novos rodízios de água não são descartados pela SAAE

A superintendente da autarquia, Fabiane Santiago, pede a colaboração da população com relação ao consumo consciente.

O Atibaiense – Da redação

Atibaia tem investido no sistema de abastecimento de água mas a queda da vazão do Córrego do Onofre tem trazido preocupação. Em entrevista ao jornal O Atibaiense, a superintendente da SAAE, Fabiane Santiago, explica como a autarquia tem trabalhado para minimizar os impactos na população.
Na última sexta-feira (24) foi necessário um rodízio no abastecimento de parte da cidade. A ação atingiu bairros tanto na sexta como no sábado (25). Com a chuva do fim de semana passado, foi possível cancelar a continuidade desse rodízio. Mas a crise hídrica continua em todo o país e novos rodízios não são descartados.
Fabiane explica que Atibaia conta com dois grandes sistemas de abastecimento. O principal é o Central, onde fica a Estação de Tratamento Central e cuja água é captada do Rio Atibaia. Hoje são captados 400 litros por segundo, com outorga aprovada para 1.000 litros por segundo. “A nova ETA Central será capaz de tratar até 700 litros por segundo. É mais do que suficiente para atender a demanda da cidade hoje”, conta.
O sistema da Estação de Tratamento do Cerejeiras trabalha com captação de água do Córrego do Onofre, e é esse sistema que vem apresentando problema. A capacidade é de 120 litros por segundo, mas como há problemas com a vazão do córrego, há momentos em que não é possível fazer a captação total ou em cenários mais críticos, o sistema de captação precisa ser desligado, pois a vazão é tão baixa que impossibilita o tratamento da água.
“Cada sistema atende seu público. A ETA Central atende a cerca de 75% do público e a ETA Cerejeiras cerca de 25%. O Córrego do Onofre vem sofrendo despejos clandestinos, irregulares, de efluentes industriais. Quando esses despejos acontecem, é preciso parar a captação. A população ficava sem água e, para resolver, a SAAE fez a interligação do sistema Central para o sistema do Cerejeiras, que dá capacidade de transferir até 80 litros por segundo. Graças a essa obra de interligação estamos conseguindo atender a população daquela região com água do Centro”, explica a superintendente.

Além da questão dos despejos, o Córrego do Onofre vem sofrendo também queda de vazão. “Quando foi feita a outorga, tinha vazão de 200 metros por segundo. Ano passado tivemos queda de vazão e problema de abastecimento. Esse ano, tivemos várias vezes que vazão caiu para 40 metros por segundo. Nessa vazão, não conseguimos nem captar. Se não fosse a interligação, pessoas ficariam sem água em muitos momentos”, continua Fabiane.
Segundo a superintendente, há investigações da Polícia Civil e do Ministério Público em andamento com relação aos despejos irregulares no córrego.
Todo o volume captado é distribuído, não existe reserva. Há apenas reservatórios capazes de armazenar água por algumas horas, suficientes para casos, por exemplo, em que é necessária a interrupção de abastecimento por alguma emergência e é necessário algum reparo.
“O que produzimos hoje atende ao município, mas não atende expansão. Desde junho todas as certidões que dão entrada pedindo viabilidade a SAAE está dando negativo. Pedidos para novas unidades com mais de 10 ligações, como por exemplo conjunto vila, prédio, loteamento. Dizemos que existe rede de abastecimento, mas que não temos como atender”, destaca Fabiane.

 

Painel de Controle de distribuição de água.

 

RODÍZIO
“Como trabalhamos no limite, com reserva de no máximo 24 horas e quando temos que parar a captação no Onofre, não conseguimos reservar, porque reservatório baixa rápido. E temos que distribuir cerca de 120 litros por segundo que eram da ETA Central para aquela região. Então, para ajudar aquela região, temos que mandar água do ETA Central. Por isso o rodízio foi instituído em apenas em alguns bairros”, explica Fabiane sobre o rodízio ter ocorrido em apenas alguns locais.
“Fechamos setores que fizeram com que conseguíssemos reservar mais água na Central para transferir. Se precisar de rodízio em outros momentos, não serão sempre os mesmos bairros. Do ponto de vista operacional, para nós esse foi a forma mais eficiente. Não era necessário penalizar a cidade inteira”, continua.
Fabiane diz que não existe problema de captação com o Rio Atibaia, apenas no Córrego do Onofre. “Rio Atibaia tem volume muito maior do que o que precisamos captar”.
A superintendente explica que o rodízio é muito trabalhoso do ponto de vista operacional e só é instituído em casos de extrema necessidade. “Quando tem rodízio, funcionários têm que ir manualmente fechar os registros de cada setor. E depois ir abrindo um a um. Tem que controlar pressão, descarga de água. Se tiver bolsão de ar, tem que deixar a água passar para acabar com o bolsão, por isso às vezes a pessoa vê a água escorrendo e acha que é desperdício, mas tem que passar a água para tirar o ar da rede”.
Fabiane destaca ainda que o consumo aumentou muito durante a pandemia e aos sábados, especialmente em dias mais quentes, há picos de consumo que demandar alerta da SAAE.

COBRANÇA MÍNIMA
A superintendente falou ainda na entrevista sobre o sistema de cobrança da tarifa de água. Atualmente existe uma cobrança mínima de 10 metros cúbicos, ou seja, mesmo que pessoa consuma abaixo de 10, ela paga pelos 10. “Ele é na verdade como se fosse uma assinatura. Você tem toda a captação, tratamento, é um pacote. A água tem um custo real, tem custo para produzir cada metro cúbico e há uma fórmula para o custo real. Quem consome de 0 a 10 metros cúbicos na verdade tem valor subsidiado e paga menos que valor real. Quem consome de 11 a 15 paga o valor real e quem consome acima de 15 paga valor acima do real”.
Existe uma lei no Senado sendo debatida para extinguir o valor mínimo para energia elétrica, gás, água etc. “A Sabesp em São Paulo já fez estrutura tarifária dela para implantar a partir de 2022 a cobrança por metro cúbico, sem o mínimo. A agência reguladora é contra e quando a Sabesp começar a cobrar vai ser possível ver que na prática fica mais caro. Porque quem consome até 10 metros cúbicos paga valor subsidiado hoje. Vai pagar o valor real”, diz Fabiane.
Existe um custo para produzir água e ele é rateado entre as pessoas, de uma forma que incentive pessoas a consumir menos. Quem consome menos paga menos. Se for cobrado o valor real de todos, vai ser necessário dividir o custo entre todos de forma igual, aumentando para alguns e diminuindo para outros.

PERDAS
Fabiane explica que há um trabalho de manutenção para troca da rede por materiais mais modernos e resistentes. “Não conseguimos fazer o preventivo. Fazemos quando tem um problema. Se houver um vazamento, aproveitamos para trocar aquele trecho. Na Avenida São Paulo tivemos que trocar quase inteira. Ainda temos necessidade de troca em locais como Centro e Alvinópolis”.
Segundo a superintendente, esse tipo de vazamento tem perda de água, mas ela está embaixo da terra, então acaba voltando para o lençol freático. “A perda que mais causa prejuízos é a perda comercial, que é a fraude de hidrômetro, hidrômetro antigo. A pessoa está pagando menos do que consome, então essa pessoa não economiza. Nós começamos um trabalho de troca de hidrômetro, mas demos uma parada na pandemia porque acaba tendo um contato com a pessoa, que tem que assinar documento da troca e também normalmente quando troca, tem aumento na fatura, pois é comum o hidrômetro mais velho não registrar corretamente. É normal o aumento de uma média de 30% na conta quando troca, mas é porque estava medindo errado”.

NOVA ETA CENTRAL
A obra da nova estação de tratamento Central está cerca de 80% concluída, segundo Fabiane. “Deve ser entregue em outubro, mas vai começar a operar entre abril e junho de 2022”, conta. Fabiane finaliza dizendo que a falta de água é real e que pode haver necessidade de novo rodízio. Por isso, pede que as pessoas façam o uso consciente da água e evitem desperdício, especialmente nos horários de maior consumo, que costuma ser das 18h às 21h.
“Pedimos que as pessoas distribuam as tarefas ao longo do dia sempre que possível. Imagina se todo mundo for tomar banho, cozinhar, colocar roupa na máquina, regar jardim, tudo entre 18h e 18h30 quando chega do trabalho. Temos pico de consumo e o sistema não aguenta. Em algum lugar vai faltar. Então quem puder distribuir o uso ao longo do dia, vai contribuir para não sobrecarregar sistema”, destaca.