A contribuição de José Antônio Silveira Maia para a cultura local

Márcio Zago

No dia 17 de fevereiro de 1901 os poucos leitores do município tiveram em mãos, pela primeira vez,o jornal “O Atibaiense”. No contexto da época, a existência de um jornal próprio atribuía à cidade enorme valor. Era a comprovação do grande progresso que parte da população antevia. Onze anos antes, Olímpio da Paixão e Afonso de Carvalho publicaram “O Itapetinga”, este sim, o primeiro impresso do município. Ambos nasceram sob o marco do ideário progressista republicano. Sem a primazia, “O Atibaiense”se transformaria no nosso mais longevo e importante veículo de comunicação, atravessando décadas de existência e integrando o seleto rol dos mais antigos jornais do Brasil. E tudo começou com o sonho e o trabalho deJosé Antônio Silveira Maia. Natural de Bragança,o Maia, como era conhecido, iniciou sua profissão de jornalista na própria terra natal, onde editou o “Almanaque de Bragança”, publicação que se tornou importante veiculo de repercussão regional. Ao mudar-se para Atibaia fundou “O Atibaiense” e pouco depois tentou realizar uma versão similar de seu impresso anterior: O “Almanaque de Atibaia”.
Vários anúncios chamavam a atenção naquele ano de 1903 para seu conteúdo:“Conterá este almanaque, além do calendário, a história da fundação de Atibaia, Campo Largo (Jarinú) e Santo Antônio da Cachoeira (Piracaia). Trará também retratos e biografias de atibaienses que se tem salientado neste município e algumas vistas de ruas e dos principais edifícios. O editor e proprietário pede a todas as pessoas que possuírem quaisquer conhecimentos sobre a história ou tópicos deste município o obséquio de desde já enviarem a esta redação…”Como se nota, o Maiatinha a perfeita noção de seu papel naquela comunidade em franco processo de urbanização.
Sua visão múltipla refletia nas pautas do jornal, que iam dos registros históricos, aos temas mais avançado sem termos de tecnologia da época, passando pela politica, religião e das noticias nacionais e internacionais. Informações que colhia das inúmeras revistas que chegavam até ele. Empreendedor nato trouxe o primeiro telefone para Atibaia e soube explorar todas as possibilidades possíveis desse novo meio de comunicação ao recriar um sistema de recados que estendia o benefício a muitos moradores.
Foi também o primeiro a montar uma tipografia comercial. Em 1905 assim descrevia a coluna “Divagando”: Fui convidado por esse ilustre Senhor para visitar a redação do jornal que tão dignamente sairá à luz sob seu pujante e reconhecido valor de homem que trabalha em prol do progresso local e aceitando seu gentil convite tive ocasião de verificar de perto o grande melhoramento com que está dotado este município, cujo melhoramento foi emanado exclusivamente da iniciativa deste Senhor. Existem na redação d “O Atibaiense” três aparelhos telefônicos comunicando esta cidade com a estação de estrada de ferro, com Bragança e diversos lugares. Brevemente será inaugurado outro comunicando com a capital. Desejando saber noticias de um amigo que se achava gravemente enfermo na capital, recorri ao aparelho telefônico e “assisti” em pessoa a transmissão das minhas palavras e dentro em poucos minutos o telegrafo as transmitia ao seu destino.
E com a mais elevada satisfação que eu felicito o povo Atibaiense por mais esse melhoramento o ao Senhor redator d’O Atibaiense eu deixo gravadas nessas páginas expressão da minha sinceridade e faço votos para que seu coração continue a se e volar essas ideias humanitárias, benfazejas e dignas de louvor…”Mas foi à cultura atibaiana que muito se beneficiou desse editor. Sua paixão pela área era visível nos artigos e críticas que realizava sobre o tema, sempre enaltecendo as realizações artísticas como atributos indispensáveis para o engrandecimento do município. Num pretenso histórico cultural não poderia ficar de fora a figura do Maia. Sem ele ficaríamos desprovidos de informações valiosas sobre um longo período de nossa história, e por consequência sem dados suficientes para traçar o desenvolvimento cultural do município.
Após seu falecimento, em 1916, encerrava-se a primeira fase do jornal “O Atibaiense”, que passou a ser dirigido pelo poeta Joviano Franco da Silveira. Substituindo com competência seu antecessor, o jovem atibaiense aprofundou o enfoque na cultura, dando ao jornal uma orientação mais literária. Quanto ao “Almanaque de Atibaia”, até o momento não encontrei noticias de que tenha sido finalizado.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.