Cinema ao ar livre

Em 1907 o empreendedor Deoclides Freire compra o primeiro projetor da cidade com a intenção de utilizá-lo na Semana Santa.

Marcio Zago

Em 1910 o cinema ainda era novidade para a maioria dos moradores de Atibaia e região. Depois da primeira exibição, que ocorreu em 1903, elas ficaram frequentes, mas restritas ao teatrinho da cidade. A entrada era paga, limitando o acesso da população mais pobre.
Em 1907 o empreendedor Deoclides Freire compra o primeiro projetor da cidade com a intenção de utilizá-lo na Semana Santa. Ele pretendia exibir “os quadros vivos da Paixão e morte do Salvador, última novidade de Paris, Europa e América”. Por problemas técnicos não foi possível, fato que só ocorreu em 1910, durante a Festa do Divino Espirito Santo. Até então essa festa era marcada pela profusão de fogos de artifício e balões que iluminavam o céu da cidade durante toda sua realização. Para esse ano, 1910, os festeiros Horácio Netto e D. Umbelina Leite prometiam uma surpresa para o publico que geralmente lotava a Praça da Matriznesses dias: A exibição de vinte sensacionais fitas. A Festa do Divino Espirito Santo, que ocorria no dia 25 de junho, era uma das mais importantes para a elite local, onde os festeiros não economizavam recursos para sua realização.
A ideia daquele ano era exibir filmes, em substituição aos fogos e balões comuns até então. A ideia pegou bem. O Atibaiense reforçava esse fato numa notinha:”Para o programa que hoje publicamos chamamos a atenção dos nossos leitores que hão de regozijar pelo conjunto do bem escolhido, na parte profana sobressaindo à moderníssima diversão não usada: as projeções das 20 fitas cinematográficas em vez dos antiquados e perigosíssimos fogos de artifícios. Aplaudimos imensamente o invento dos dignos festeiros por essa belíssima inovação”. E assim, no dia 25 de junho de 1910, o projetor (provavelmente de Deoclides Freire) foi montado na última janela do Clube Recreativo Atibaianopara a primeira exibição de filme ao ar livre de Atibaia.
A tela foi colocada em frente ao coreto a uma distancia de sete metros do projetor. De grandes proporções, a tela era visível porboa parte da praça. Foi um sucesso absoluto. E aqui é difícil não recordar do filme “Cinema Paradiso”, uma sensível e comovente homenagem ao cinema. Em determinada cena, com o cinema lotado, Alfredo, o velho projecionista do Cinema Paradiso, realiza uma combinação de reflexos no projetor gerando uma segunda exibição em praça pública voltado aos espectadores que ficaram de fora do cinema… Para delírio do garotoToto, o protagonista do filme.
Na cena seguinte ocorre um incêndio no cinema causado pela combustão da fita… Fato que ocorria frequentemente. Em Atibaia, até então, não havia informações de qualquer incêndio ocorrido durante as projeções, mas o jornal O Atibaiense alertava para o perigo e publicava noticias de fatos ocorridos em outras localidades, como a grande catástrofe de um cinema de Serra Negra, em 1910. A segurança do espaço era um importante atributo e foi, algumas vezes, destacado na programação dos eventos.
Fatos de uma linguagem em desenvolvimento que desde seu inicio encantou e comoveu milhares de amantes, muito bem representado no clássico Cinema Paradiso,de Giuseppe Tornatore.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.