Os teatros na região

Márcio Zago

No final do século XIX e principio do século XX o teatro ganhava prestígio na região. Nazaré Paulista já tinha suas apresentações teatrais e provavelmente um teatro, ou um espaço apropriado para as montagens da época. Na coluna “Nazareth”, publicada na época pelo jornal “O Atibaiense”, fica subtendido essa informação, uma vez que não há indícios de que as peças lá encenadassejam apresentações abertas, de rua. Em Atibaia o nosso teatrinho, localizado na área do Mercado Municipal, já era bastante frequentado. As apresentações aconteciam por iniciativas dos grupos teatraisque aqui se formaramou por pequenas companhias itinerantes que se exibiam no local.
Em 1901, na coluna “Palestrando” do jornal “O Atibaiense”, o professor Edmundo Lisboarelatava com entusiasmo as conquistas alcançadas pela cidade até aquele momento. Realçava o fato de Atibaia já possuir água encanada, ruas calçadas, edificações confortáveis e elegantes, linha telefônica e um pequeno e modesto jornal que era distribuído semanalmente a seus assinantes (o jornal era O Atibaiense). Segundo ele, faltava apenas um bonde e um teatro.
O bonde seria para ligar a estação ferroviária ao centro. Um engenheiro inglês chegou a visitar a cidade para orçar seus custos. Mais tarde “capitalistas” locais tentaram organizar uma companhia para instalar os tão sonhados bondes, desta vez com tração a vapor, novidade na época. Pretensões que não saíram do papel.
Quanto ao teatro, as vantagens seriam imensas. Descreve assim o artigo: “Nós estamos no caso de possuirmos um melhor teatro. O que temos está muito e muito longe de regular. Tendo-se um bom teatro, teremos aqui boas companhias, ouviremos então boas músicas que será uma escola para aqueles que sabem dar valor a esta arte. Quanto não seria agradável ouvir-se aqui, cantado em um teatro nosso O Guarany, Salvator Rosa, O Escravo, e outras produções do nosso laureado Carlos Gomes; e de outros gênios? Que belas operetas e bons dramas não ouviríamos, deixando os próprios velhotes a lamber os beiços ou a enxugar as lágrimas com o seu lenço de alcobaça?! E se tudo isso não for possível pelo menos. Piano, piano, si valontano”. A inspiração do professor Edmundo Lisboa para este artigo, que provavelmente expressava a vontade de muitos atibaianos, vinha certamente da cidade vizinha de Bragança Paulista. É de lá o primeiro Teatro de Opera do interior do Estado: o Teatro Carlos Gomes. Construído entre 1892 e 1894,o suntuoso e elegante prédio em estilo Neoclássico certamente fez parte do imaginário da elite abastadada época. Sonho e realização de dois ricos fazendeiros de Bragança do tempo áureo do café: Felippe Rodrigues de Siqueira e Izidro Gomes Teixeira.
O prédio, que ocupava uma área de quase quatro mil metros, tinha capacidade para receber mais de mil pessoas. Representava com perfeição a riqueza e a opulência dos fazendeiros do café destacandoa importância de Bragança Paulista na região. A inauguração ocorreu com as apresentações das óperas Guarany e Bohème, pela “Companhia LyricaRotoli e Peri”. Embora visto com entusiasmo, o custo/benefício do empreendimento, somados ao declínio da riqueza cafeeira inviabilizou sua continuidade, encerrando suas portas anos após a inauguração.
De salão de baile a ringue de patinação, passando por fabricas de jacás e colégio, o prédio, depois de um incêndio ocorrido em 2010, encontra-se agora em fase final de restauração, readquirindo sua função cultural. Depois de concluído o Teatro Carlos Gomestem tudo para se transformar em referencia cultural na Região Bragantina no período pós-pandemia.Assim espero!

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.