E Atibaia se rende ao teatro

Embora carinhosamente chamado de “teatrinho”, é difícil especificar o tamanho real do prédio e o numero de espectadores que comportava.

Márcio Zago

A mesmice e pasmaceira reinante na pequena Atibaia do final do século XIX e inicio do século XX foi parcialmente aliviada com a consolidação da cena teatral no município. Os moradores descobriram o prazer da “arte de Thalma”(como costumavam se referir ao teatro) e passaram a frequentá-lo assiduamente. A região onde hoje é o Mercado Municipal passou e receber a elite atibaianaávida de diversão e conhecimento.
Embora carinhosamente chamado de “teatrinho”, é difícil especificar o tamanho real do prédio e o numero de espectadores que comportava. Um indicativo para esta resposta fica por conta do artigo publicado no jornal “O Atibaiense”,onde a Companhia Carrara pretendendo se apresentar no espaço,realiza uma venda antecipada de ingressos dias antes da apresentação.
Informam depois que foram vendidos setenta ingressos, que seriam divididas em duas sessões. A descrição mais exata e poética dos registros contidos sobre o teatrinho fica por conta, mais uma vez, de Waldomiro Franco da Silveira, em artigos de jornal e posteriormente publicado no livro “História de Atibaia”. Vale a pena mantê-lo na íntegra: “O teatrinho da cidade, espremido na ilharga do Mercado, ilumina-se feericamente (a querosene já se vê) tornando-se o ponto de convergência da elite citadina.
À porta, o Benedito Carneiro vai recolhendo os recibos do mês, apresentados à guisa de ingressos; as famílias vão entrando e ocupando os estreitos e incômodos bancos, sem espaldar, da plateia; no galinheiro, as crianças vigiadas por suas mucamas fazem um barulho infernal; o vozerio das senhoras na plateia não é menor. Os homens aboletam-se nas extremidades dos bancos ao lado de suas famílias ou encostam-se ao longo das paredes laterais.
Casa cheia. De repente, do lado do palco soa uma enxada velha dando o primeiro sinal; depois o segundo; finalmente, ao terceiro sinal, faz-se silêncio; em seguida trilha um apito. Tirado por preguiçosas carretilhas que guincham com estridência, sob o pano de boca, deixando ver ao fundo o palquinho, onde artistas improvisados e recrutados entre os melhores elementos da terra vão exibir graciosamente suas possibilidades artísticas…Durante os intervalos, a plateia transformava-se em verdadeiro restaurante: as famílias abriam cestas recheadas de pastéis, bolinhos, doces e até frangos assados, que eram comidos com a maior sem cerimônia, e completo desrespeito ao Dont (?).
No saguão, formado pelo recinto do Mercado, enfileiravam-se tabuleiros mal iluminados por lanternas de vidro, cheios de guloseimas; Nha Joana Paca e o Belizário alfaiate, eram os quitandeiros preferidos”.Além do espaço físico eram necessárias pessoas para realizar e manter a cena teatral no município. Assunto para os próximos artigos.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.