Nossa dificuldade mesmo é quando parar de falar

Os resultados mostram que apenas 2% das conversas terminaram quando ambos os participantes desejavam e, na maior parte dos casos, a duração desejada era aproximadamente metade da realidade.

Por Luiz Gonzaga Neto

Jornalista tem uma mania: editar mentalmente a própria fala e a fala dos outros. Ou seja, o sujeito está falando e você está “organizando em parágrafos” as palavras, tirando aquelas dispensáveis, já preparando o seu texto. Esse tipo de situação interna mostra um outro aspecto que passei a vida observando, mas para mim mesmo não resolvi totalmente: quando devemos parar uma conversa? Tem de ser gênio para saber o que é suficiente e segurar a vontade incontrolável de “desembestar” no assunto, principalmente quando você é entusiasta e fã de suas próprias opiniões.
Uma matéria da revista “Scientific American” explicou o que está por trás de tudo isso. A notícia diz que estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences USA revelou: não sabemos conduzir e tirar proveito de conversas e interações sociais. A pesquisa, conduzida por Adam Mastroianni, candidato ao doutorado em psicologia na Harvard University, entrevistou um grupo de mais de 800 participantes sobre sua satisfação com a duração das suas conversas mais recentes, mapeando a duração desejada e a duração real dessas interações.
Os resultados mostram que apenas 2% das conversas terminaram quando ambos os participantes desejavam e, na maior parte dos casos, a duração desejada era aproximadamente metade da realidade. O estudo é um dos primeiros sobre o tema a ser conduzido por psicólogos, e não por sociólogos ou linguistas. As conclusões são importantes porque “as conversas são uma expressão elegante de coordenação mútua e, no entanto, tudo [pode] desmoronar no final, porque simplesmente não conseguimos descobrir quando parar”.
Meu Deus, é a pura realidade! Vocês imaginam o que eu sinto, durante a pandemia: tentando fazer a minha parte no isolamento social, a sensação de alívio é inevitável. Alívio por evitar, nestes 13 meses de pandemia, muitas conversas que se arrastam mais do que deveriam. É normal quando pessoas conhecidas se encontram em uma cidade como Atibaia, que ainda tem um lado de interiorana.
Num rápido retrospecto, meu balanço é de que raramente soube parar numa conversa – profissional, entre amigos, entre familiares. Exagerei inúmeras vezes ou deixei que alguém derramasse sobre mim suas elocubrações – e sem reclamar, o que é pior. Talvez essa seja uma característica do homem “cordial” brasileiro – sempre fazendo média, prestando atenção em coisas muitas vezes inúteis, esperando aquele momento de ouro, o instante em que uma palavra inspirada é dita e pode até inspirar letra de música ou ideia para um artigo de jornal.
Quem sabe um dia saibamos administrar melhor nossas torrentes verborrágicas, sendo mais objetivos, seguindo modelos como os praticados pelos cidadãos do Primeiro Mundo. Mas aí não sei se continuaremos sendo tropicais, habitantes deste país convulsionado ao sul do equador. Parando…

* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com.