Famílias e empresas aumentaram a poupança na pandemia

Wagner Casemiro

As notícias econômicas sobre a pandemia costumam ser negativas, mas há segmentos empresariais e setores da sociedade que conseguiram resultados positivos. Parece incrível e contraditório se visto de fora. Analisando os dados, vocês vão concordar com a conclusão de estudo divulgado pelo Cemec-Fipe (Centro de Estudos de Mercado de Capitais, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). É o verso da moeda, que na face mostra o aumento das dívidas das empresas, por exemplo.
Segundo o estudo citado, famílias e empresas aumentaram a poupança durante este primeiro ano da pandemia, que faz aniversário agora em março. Essa poupança representa 15% do PIB (Produto Interno Bruto) ou R$ 756 bilhões em 2020, como destacou a Folha de S. Paulo em artigo publicado em 10 de fevereiro (página A8). A maior parte dos recursos vem das empresas. Ouvido pelo jornal, o pesquisador Carlos Antonio Rocca, da Fipe, afirmou tratar-se “de um valor inédito e que pode contribuir para a recuperação da economia neste ano”.
As famílias investiram em depósitos à vista, como os CDBs, as cadernetas de poupança e as ações, mas também sacaram dos fundos de investimento. O levantamento considera dados de janeiro a setembro do ano passado e utiliza modelo que cruza dados de várias fontes – como Banco Central, a Bolsa e a entidade Andima – sem dupla contagem. O que foi poupado não será convertido imediatamente em consumo, na avaliação de Rocca. Até porque as famílias lidam com os cenários de incerteza do coronavírus.
Seguindo esse raciocínio, este primeiro trimestre deve ser de estagnação. E a melhora dos cenários depende da vacinação e de medidas de flexibilização fundamentadas na melhoria das condições sanitárias da população.
O afastamento social contribuiu para a redução dos gastos em alguns estratos sociais. Como a crise econômica continua ameaçando até as camadas médias, a escolha deve ser a precaução, ou seja, gastar o mínimo possível. A maior parte da poupança registrada não vem do auxílio emergencial, que também contribuiu positivamente, mas das famílias de significativo poder aquisitivo, que deixaram de consumir serviços como restaurantes e viagens, fechados ou suspensos em boa parte de 2020.
No caso das empresas, o aumento da poupança se deve à tomada de crédito para reforço de caixa e ao desinvestimento em estoques. Nesse caso, montante razoável do que foi poupado, deve ser destinado ao pagamento de débitos. Seguindo essa leitura, as empresas devem ter um primeiro semestre de maior liquidez e conforto financeiro. Segundo nota da Fipe divulgada ainda no ano passado, as empresas reforçaram os movimentos de ajuste de carteira já observados em 2019, ao reduzir suas aplicações em ações, títulos de dívida pública e fundos de investimento e aumentar a parcela alocada em depósitos a prazo e títulos de dívida privada.

* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.