Um Conto sem Fim

Era uma vez, num ano bem distante a mais de meio século atrás, em uma cidadezinha do interior, mas não muito distante da capital do Estado, onde os jovens da época, sonhavam com o crescimento e desenvolvimento, das oportunidades de trabalhos.
Haviam na época algumas notícias de desenvolvimento da cidadezinha, que eram as mais alvissareiras:
1 -Telefonia
O setor de telefonia estava prestes a mudar de operadora e deixar de ficar o aparelho pendurado na parede, que exigia um grande esforço de quem desejava uma ligação, tendo de ficar virando uma manivela por alguns minutos, com o objeto de escuta retirado do gancho, colado ao ouvido e pacientemente aguardar uma voz feminina de outro lado da linha, pronunciar doce e educadamente a palavra “Telefonista”!
E a resposta do postulante à ligação, dizia: telefonista, por favor, eu preciso de uma ligação para capital!
Sim senhor!, respondia ela, qual é número? E ia logo informando: estamos com todas as linhas congestionadas, há uma demora de 4 a 6 horas.
Que agonia, a espera parecia a uma antessala de parto, aguardando a porta abrir.
¨Ah! A chegada da TELESP com o telefone de mesa com disco rotativo de números, até o barulhinho do disco no retorno anti-horário era cativante, e a rapidez de comunicação. Que maravilha! “
2 – Energia elétrica
O setor de energia elétrica municipal seria substituído por uma empresa Estadual, a qual projetava a implantação de uma agencia regional nessa cidade, centralizando dessa forma uma administração de grande alcance.
Para os jovens da época, nos quais me incluo, havia um grande dilema com o trovão anunciando a uma rápida chuva, era uma eminente alerta. Vamos ficar sem energia elétrica por algumas horas.
Para os que precisavam trabalhar e estudavam a noite, em dias de cansaço e de saco cheio, o trovão era bem-vindo, pois anunciava que em sequida seriamos dispensados das aulas, mas, quando estávamos em um cinema curtindo o filme, sozinho ou acompanhado, era uma tragédia pois tudo era interrompido!
“Ah!, com a chegada da CESP, tudo ficou mais claro, as sorveterias e outros seguimentos não perdiam mais nada por descongelamento. Quanta segurança! “
3 – Rodovias
A previsão era que o projeto da construção de uma rodovia, que iria cruzar a outra já existente e que daria a essa pequena cidade o confortável status de ficar no maior entroncamento rodoviário da America do Sul.
Mas a já grandiosa pelos seus encantos, contado em versos e prosas pelos poetas de então, sobre:
“A grandiosidade de qualidades de suas fontes de águas minerais;
A alta pureza de seu ar, considerado o segundo melhor do mundo, com suas refrescantes prisas vindo das montanhas verdejantes que a circundam;
E a sua população ordeira e hospitaleira. “
“Ah, a chegada da Rodovia D. Pedro I, que maravilha! Desatando todas as amarras que nos mantinham quase isolados de alguns grandes centros”
Mas faltava ainda alguma coisa, o seu crescimento era muito tímido, o volume de construção de novas casas não deslanchava, mesmo com tanto que ja havia progredido em infraestruturas.
4 – Saneamento Básico
Foi aí que a ultima previsão da década de sessenta para o crescimento dessa cidadezinha, de não mais de trinta mil habitantes fixos, se eu não estiver errado, aprovou uma Lei em 1969, criando uma Autarquia, para de forma autônoma passar a cuidar da administrção e o desenvolvimento do saneamento básico do Município.
Essa Autarquia, após um ano e meio de sua criação, iniciou-se a sua efetiva implantação, mais precisamente em fevereiro de 1971, contando nesse momento com tres pessoas e a colaboração de mais duas pessoas de outros setores da Prefeitura.
Foram alguns meses de insônia, pois não havia um modelo estrutural, para a área administrativa. Nada existia, muito menos dinheiro para implantação.
Garimparam no galpão da Prefeitura algumas sucatas como mesas e cadeiras para escritórios, as quais foram recuperadas – após uma vaquinha do próprio bolso para compra de lixas e verniz.
Os equipamentos mais avançados a disposição foram as velhas e boas máquinas de escrever línea 88 e outras calculadoras, algumas também garimpadas da mesma sucata para recuperação.
E desse jeito, foram em frente, e aos poucos ganhando corpo com a formação de uma equipe coesa e ciente do seu dever social.
E o mais importe foi que nos próximos anos, com a construção de uma moderna estação de tratamento de água, que lá está até hoje, e a implantação de redes de água e esgoto na maior parte da cidade, essa Autarquia além de passar a contar com o apoio irrestrito do povo, na época foi considerada por alguns seguimentos como uma das mais organizadas, cujo modelo de implantação serviu para alguns outros municípios.
“Ah, como o saneamento básico é tão importante! Sem ele não há crescimento, nem saúde por inteiro, das pessoas e do meio ambiente. “
Essa Autarquia que viu a sua cidade crescer rapidamente, livre de mortalidade infantil, por motivos hídricos, já nos seus primeiros anos de operação, ruas deixaram de escorrer esgotos a céu aberto, lençol freático poupado de contaminação por fossas, certamente poderá testemunhar essa verdade.
Então, olhando esse pedacinho de Brasil, eu penso, que pena enorme, que a maioria dos governantes brasileiros só agora estejam começando a perceber que nem tudo que vai para baixo da terra é esquecido.
Parabéns ao SAAE de Atibaia, pelos 50 anos de sua implantação, e a todos os servidores que lá estão e os que já passaram, e em especial, aos já saudosos que não mais estão entre nós, e que mesmo não lembrados o bastante, deixaram as suas marcas participativas, nessa causa nobre e tão importante para a saúde humana e ambiental, que é o saneamento básico.
Janeiro de 2021
ASR