No Enem Ninja, fui mal, mas prometo melhores notas em 2022

O título é só uma brincadeira com o leitor. A frase saiu no episódio “Malandragem Ninja”, produzido pelos Voice Makers e veiculado no Youtube. Sabe aquelas coisas de adolescente? Muito palavrão e brincadeiras com os personagens do Naruto, sucesso na galera. De vez em quando, tenho de sair daquela seriedade de um senhor de 66 anos, compenetrado, para mergulhar na “realidade”.
Na imprensa, a dura “realidade” é o balanço dos ataques. O site Repórter Brasil – organização que investiga violações de direitos humanos a partir de grandes reportagens – apontou que as agressões virtuais contra veículos de comunicação cresceram 140% em 2020, segundo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Os ataques incluem xingamentos e ameaças de morte, além de tentativas de bloqueio e derrubada de páginas de blogs, coletivos de comunicação, sites de notícias e perfis específicos de jornalistas.
Alguns desses ataques buscam captar e expor dados pessoais (prática conhecida como doxing) de repórteres e editores. Há registro de ações que extrapolaram o ambiente digital, chegando a ameaças físicas. Os incitadores das investidas contra a imprensa vão desde agentes do governo descontentes com a cobertura política a influenciadores digitais que costumam propagar notícias falsas e estimulam seus seguidores a constranger e atacar jornalistas e veículos de mídia.
Em uma nota de repúdio aos ataques, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o SJSP (Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo) afirmam que “é a primeira vez que temos no Brasil um ataque cibernético com objetivo assumido de censura, portanto, assumidamente um ataque à liberdade de imprensa”.
Claro que existem ataques indiretos, que procuram inviabilizar a sobrevivência financeira e sobrecarregar psicologicamente os profissionais de imprensa, limitando seu campo de atuação. Por vias transversais, é como colocar o comunicador experimentado em uma espécie de Enem Ninja, feito para amadores e iniciantes, de que inevitavelmente sairá mal.
Por outro lado, pesquisa internacional realizada pela Unesco e pelo ICFJ (Centro Internacional para Jornalistas) mostra que a violência virtual contra as profissionais de mídia pode levar a ataques físicos. O levantamento feito com 1.210 jornalistas mulheres mostra que cerca de 73% delas foram alvos de abuso, ameaças, assédio e ataques online. Além disso, 20% delas acredita que abusos e ataques sofridos offline estão relacionados à violência virtual.