Aplicativo agilizou conversas, mas perdemos vestígios e sinais

É impressionante a presença dele em nossa vida cotidiana. Aplicativo mais usado no Brasil durante a pandemia, o Whatsapp mudou a maneira como conversamos uns com os outros e estimulou novas formas de diálogo, como as pequenas reuniões por texto, os áudios e os vídeos engraçados, as brincadeiras entre familiares e amigos, as tentativas de cantada.
No trabalho, com familiares e amigos, o aplicativo é utilizado para mensagens, decisões, envio de documentos, pedidos ao supermercado e a fornecedores diversos, agendamento de consultas e até recursos em ações judiciais. “Printar” uma página do zap para expor o comportamento de autoridades virou ferramenta de trabalho para boa parte da imprensa, advogados e promotores.
Segundo Mariana Payno, da Gama, da revista digital Gama, um estudo realizado pelo Núcleo de Marketing e Consumer Insights da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) constatou que o aplicativo foi o mais utilizado nesse período por 97% dos entrevistados. “Mas esse cenário não é exatamente novo — antes da crise do coronavírus, 99% dos smartphones do país já tinham o app instalado. O Brasil é, inclusive, um dos lugares do mundo em que o zap (olha só, até apelidos nós criamos) é mais popular”.
Quem se lembra do ICQ? Também o MSN e o Messenger do Facebook já existiam quando o Whatsapp foi criado em 2009. Certo também que, no aplicativo, perdemos as pistas e os vestígios que as conversas presenciais têm. A ideia de “turno” – quem fala agora? – sumiu entre mensagens apagadas. Como saber a hora de começar e o momento de parar? E quando o outro lado fica irritado porque você não respondeu no tempo “certo”? Como evitar malentendidos e interpretações perigosas e a ansiedade de responder tudo no mesmo instante? Dúvidas cruéis da era zap.
Uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo acontece no app: administramos muitas conversas, todas ao mesmo tempo, nos revezando entre diversos tipos de linguagem e diferentes temas. No meu caso, converso pelo aplicativo com os colegas da Câmara, mas também com meu neto Mikael, minha filha que está na Espanha, os cunhados e cunhadas, a funcionária do supermercado, o advogado, às vezes simultaneamente. E você, caro leitor?

Por Luiz Gonzaga Neto