A Fazenda São João Batista

Por Renato Zanoni (In Memorian) – Foto arquivo

O sol iluminou a colina. A manhã fria não impediu Jerônimo e Marcelino, na tarefa da exploração completa do lugar. Constataram que a terra era perfeita para assentar ali uma fazenda, uma vez que Jerônimo não podia retornar a São Paulo. Demarcaram de maneira rudimentar os limites da fazenda: uma légua ao sul pelo campo; uma légua ao norte, além do Rio Atibaia; a noroeste até uma elevação que chegava até o Rio Atibaia e a leste algumas léguas alem da Serra Itapetinga. Mais tarde, com sossego, demarcaria terras que se avistava do pico da Pedra Grande, como se fosse sesmaria adquirida. A légua de sesmaria tinha a extensão de 6.600m e uma tropa de burros andava três léguas ao dia.

As tribos de índios dali eram pacíficas e ficaram convivendo com os escravos e com os arcos. Resolveu Jerônimo ali se fixar. Começaria a organizar a fazenda. Por certo coube a Marcelino a tarefa de retornar a São Paulo e trazer Ana de Cerqueira, esposa de Jerônimo e seus filhos. Voltaria Marcelino, trazendo os haveres caseiros necessários, as aldravas e lampiões para a casa grande. Encilhada as mulas, Marcelino partiu.

O sal, a carne salgada e o bacalhau e mais a paçoca trazida em sacas, sustentaria a provisão de boca e as mulas carregadas de armas de fogo e pólvora daria proteção. Lavraram a terra e plantaram as ramas de mandioca e de batata doce que foram trazidas. Jerônimo escolheu à montante de uma bica d’água e com vista para a Serra o local da casa. Com madeiras toscas que traziam da derrubada armaram o arcabouço dos ranchos para serem cobertos de sapé. Os índios não se aquietaram na ribeira e curiosos vinham ver os trabalhos e traziam peixes e caças.

Cobertos os ranchos e acomodados os escravos saíram à mata escolher boas madeiras para o telhado da casa grande. Outros faziam os adobos e as telhas. Levantada a casa aplainou-se um terreiro fronteiro e uma capela. Ao redor da fonte medravam serralhas e caruru e as escravas cuidaram da horta e das ervas para as curas da mesinha. Nas terras reviradas plantou-se o trigo, o milho e a cana-de-açúcar. Tinham o ananás no campo e as bananas nas clareiras da mata. Jerônimo batizou essas terras com o nome de Fazenda São João Batista. E a caça era abundante. Os escravos faziam o fumo e a pinga. Da rês abatida, saia o couro para os arreios. Da garapa, o açúcar mascavo. Em cinco anos tudo na Fazenda progredia. Os potros ali nascidos já iam à doma.