O ciclo das Bandeiras

Por Renato Zanoni (In-Memorian). Foto: vista aérea da Estância Lynce.

Corria o ano de 1655. Na Vila de São Paulo pouco se respeitava os cânones da Provisão, o documento da trégua. Vivia a Vila, em plena trama política entre as duas famílias, Pires e Camargo, no centro de intrigas e intolerância parecia que ninguém fazia outra coisa.
Mas, não era tanto assim, havia gente que até levava vida contemplativa. A religião, embora mal interpretada, e maculada, por atos não muito ortodóxos, estava presente. Jerônimo de Camargo aconselhado por sua família, tentou a carreira religiosa sendo educado em colégio de padres. Era um homem culto e religioso.
O português que trouxera seus costumes para Olinda e Salvador, também o implantou no Rio de Janeiro. E, em São Paulo tudo emanava do Rio. Santeiros trabalhavam o barro e a talha em madeira, na Vila de São Paulo e nos arredores. A imagistica povoava todos os oratórios domésticos. O barroco brasileiro que veio tardio quando comparado com o da Europa, exercia uma influência visual de esplendor da Igreja, no Nordeste e no Rio de Janeiro.
Em São Paulo esbanjava-se o ouro e a prata que vinha do Peru. Na terra das bandeiras os retábulos das igrejas foram pobres e escassos, em confronto com o restante do Brasil. O ouro que o Bandeirante arrancava da terra e catava nos riachos, apenas passava por São Paulo e Santos, ganhado o mar até Lisboa. A própria família do bandeirante consumia todo o ouro, no luxo das rendas, das baixelas de prata e das louças trazidas da Índia e da China. As famílias dos bandeirantes ficavam ricas quando a bandeira era bem sucedida. Quando o ouro acabava saiam novamente para os sertões.
O Patriarca guardava o mapa, por vezes gravado num couro de boi em segredo absoluto. O filho do bandeirante ou o neto repetia a façanha. Nesse tempo, descobriram ouro no Morro Jaraguá e na Serra do Voturuna, em Santana do Parnaíba.
Botijas de barro cheias de ouro eram enterradas nos ermos lugares. Só a mãe ou a esposa do bandeirante sabia onde procurá-las. O paulista procurando ouro desbravou e ampliou o Brasil.
Os termos da Provisão tiveram seu valor, todos os atos praticados pelas duas famílias guerreiras foram perdoados, foi passada uma esponja em toda sujeira. Por isso, entendia a Matrona, tudo o que se começasse dali para frente, era coisa nova. Lembraram os Pires, os quantos foram prejudicados quando Jerônimo de Camargo sumiu com as chaves dos armários da Câmara.

Jerônimo deveria morrer!