Aulas de música para espantar o coronavírus

Se eu fosse o flautista de Hamelin, conto dos Irmãos Grimm, tocava para espantar os ratos do coronavírus e levá-los para o Rio Weser. Como não sou, aproveitei a quarentena para começar um curso de música com meu afilhado (filho de uma das minhas cunhadas) Gabriel Feitosa, músico, cantor e professor. Estou no primeiro mês e gostando bastante. É um pouco de técnica, discussão semântica e de temas tanto dos gêneros populares quanto dos mais elaborados modelos musicais. A primeira aula foi muito esclarecedora sobre “Hipster e a esquerda caviar”, tema de uma das nossas conversas em março.

Hipster é uma palavra inglesa usada para descrever um grupo de pessoas com estilo próprio e que habitualmente inventa moda, determinando novas tendências. Pelo lado com menos glamour, é a atitude de quem veste uma fantasia, passa-se um verniz, sem autenticidade, sem ter vivido aquele contexto, comportamento muito comum no ambiente urbano, em que tribos e grupos são apenas copiados pela superfície.

Nesse sentido, a esquerda caviar ou “uísque 18 anos” é aquela que fala de revolução, deglute Marx e Lênin, depõe governos nas mesas de restaurantes chiques e instala, se deixassem, “salvadores da pátria” no poder, sem ter passado pelo aprendizado duro de viver com pouco dinheiro, andar de ônibus, lavar a própria roupa, aturar patrão chato e abusador, etc. Ou seja, coisas de pobre.

Tudo isso é uma abertura ou apertura, dependendo do seu ponto de vista sobre a pandemia do coronavírus. Ao contrário do que fazem aqueles fantasistas, aprendi com o professor Gabriel que ter uma boa e conceitual capa para o trabalho musical é de verdade algo fundamental na vida de cantores e cantoras. Valem aqui e acolá as releituras, as citações, as ironias. Deus está nos detalhes.

Eu, esquerda caviar? Eu, hipster? É a vovozinha, queridos leitores destas mal traçadas linhas, que só a boa diagramação do jornal O Atibaiense salva. Até a próxima!