Uma breve história de Atibaia – O molho de chaves

por Renato Zanoni

Iniciado o ano de 1653, anunciavam os tropeiros que a caravana que trazia o Ouvidor Geral da repartição do Sul, o Dr. João Velho Azevedo, já estava chegando na Freguesia da Escada. No dia seguinte a carruagem entrava na Vila de São Paulo.
O Ouvidor vinha com seus secretários proceder a correição dos documentos da Câmara, acudindo a denúncia dos Pires, sobre atos irregulares feitos pelos Camargo. Depois de descansar por três dias dos sacolejos da pesada carruagem, o Ouvidor decidiu ir ao Paço fazer a verificação das atas e as inquirições.
Num ato impensado, Jerônimo de Camargo saiu acintosamente da Vila, com as chaves, desfeiteando o Ouvidor. Como autoridade suprema que era, o Ouvidor mandou chamar um serralheiro para abrir o Paço. As arcas e armários com os documentos estavam também trancados e sem as chaves.
Perante o tamanho desaforo da Câmara vigente, o Ouvidor Geral simplesmente mandou queimar todos os documentos e procedeu imediatamente outra eleição. Apurada a eleição a Câmara ficou quase em sua totalidade nas mãos dos Pires. Dias depois o Ouvidor partiu para o Rio de Janeiro, deixando a Vila de São Paulo sob o mando dos Pires. A notícia nutriu os ânimos da família Pires.
Jerônimo de Camargo, depois dessa derrocada que provocou para sua família, perdendo a supremacia por sua causa, pela sua conduta negativa, resolveu deixar a Vila por uns tempos.
Ana de Cerqueira, sua esposa, era de paz. Atendeu o pedido dos cunhados e pediu que Jerônimo partisse. Em companhia de seu irmão Marcelino, aparelharam uma tropilha, com escravos e índios partiram para o Sertão de Juqueri.
Vencidas as duas serras, da Cantareira e de Juqueri, seguiram por campos e matas até arrancharem nas margens de um rio já conhecido como Rio Tibaia. Entre os índios Guarulhos e guaxis, conviveram por um ano, caçando e pescando. Galgando a Serra Itapetinga, caçavam pacas e caetetus, onde pairava a águia dominando o ar, e donde desciam águas cascateantes. As terras que do pico dessa Serra se descortinava, parecia dele, até onde a vista alcançava, a Serra do Lopo, onde o lobo guará fazia sua morada.

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