Márcia Bernardes: Coronavírus mudou calendário escolar de Atibaia

Secretária de Educação, Márcia Bernardes, falou que a rede municipal está se planejando para o mínimo de prejuízo no calendário escolar.

O Atibaiense – Da redação

A secretária de Educação do município, Márcia Bernardes, concedeu entrevista ao jornal O Atibaiense para falar de todas as mudanças no calendário escolar resultantes da necessidade de ações de prevenção e contenção do coronavírus. Também comentou projetos que vão trazer mais qualidade à educação do município.
As escolas municipais seguirão as determinações do Governo do Estado e as aulas estão suspensas a partir de segunda-feira, dia 23. Nesta semana, houve a suspensão gradativa para que os pais pudessem se organizar e se informar nas unidades.
Com relação à merenda escolar, Márcia explica que foi estudado se deveria ser servida aos alunos que necessitam da alimentação por não terem a opção em casa, mas a decisão, tomada junto com o prefeito Saulo Pedroso, é de que a merenda escolar seja suspensa e que o atendimento das famílias mais vulneráveis seja feita pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social.
Já foram identificadas pela secretaria de Assintência Social algumas famílias que relataram que as crianças não estavam comendo, pois comiam somente na escola. “Sabemos que essa é uma realidade dura que existe, principalmente em outras regiões do país. Atibaia não tem tantos casos, mas o Departamento de Segurança Alimentar, da Secretaria de Assistência Social, fará o monitoramento das famílias e deve reforçar a entrega de cestas básicas”, comentou Márcia.
Parte da merenda escolar de Atibaia é terceirizada, feita por contratação de empresa privada. Com a suspensão das aulas, a Prefeitura deve suspender o contrato neste período, já que o serviço não está sendo prestado. No momento, segundo Márcia, há 83 merendeiras contratadas pela empresa terceirizada, que podem ser dispensadas.
A secretária afirma que não é possível prever o retorno das aulas. “Estamos esperançosos de que termine rápido essa crise. O secretário de Saúde de São Paulo concedeu entrevista prevendo até 90 dias de medidas preventivas. Vai prejudicar sim o calendário escolar, mas vamos buscar as adaptações necessárias”, disse Márcia.
A secretária cita que o Conselho Estadual tem uma resolução de que escolas devem cumprir 200 dias letivos ou 800 horas no ano. “Hoje fazemos 1000 horas. Vamos reduzir as horas do calendário para 800 e, nessa decisão, conseguimos ganhar 40 dias. Vamos também antecipar as férias de julho. Se Deus quiser até lá já teremos voltado. Mas mais do que o calendário, o que temos nos preocupado bastante é o conteúdo, é essas crianças ficarem sem atividade, especialmente as crianças que estão em processo de alfabetização”, explica.
Para ajudar no conteúdo, o Governo do Estado está planejando trabalho conjunto com a Google para ter um aplicativo com atividades e esse aplicativo seria disponibilizado também para as redes municipais de ensino. O acesso à internet seria financiado pelo governo estadual. “A criança entra no aplicativo e assim que acessa, tem a internet liberada no aparelho, mas só para aquele aplicativo”, explica a secretária.
Na esfera municipal, Márcia tem estudado, com a equipe da secretaria, uma plataforma online com atividades para alunos. Essa plataforma não seria de acesso obrigatório, pois a Prefeitura não tem como conceder a internet gratuita para todos, mas teria atividades para os pais desenvolverem em casa com as crianças nesse período de quarentena.
Márcia destaca que os pais foram orientados durante essa semana sobre a necessidade de manter as crianças em casa. “Estamos fazendo o apelo para que fiquem em casa, dentro de casa. Sabemos que muitos pais não conseguem deixar de trabalhar, não conseguem ter flexibilidade de horários, temos pedido que empresas sejam também solidárias. Não é férias, não é para brincar na rua, ir na casa do amigo. É isolamento social, ficar em casa”, ressalta a secretária.

TRABALHO NA UNDIME
Márcia é a atual presidente estadual da Undime (União de Dirigentes Municipais de Educação). Ela é associada à entidade desde que assumiu a Secretaria de Educação, em 2013. Em 2016, passou a fazer parte da diretoria e em dezembro de 2019, assumiu a presidência.
A Undime articula com todos os municípios do Estado. Dos 645 municípios, hoje 480 são associados. “O papel da Undime (União de Dirigentes Municipais de Educação) é dar todo o suporte para as secretarias de Educação e prefeitos. Quem faz a interlocução dos municípios com o Governo do Estado e Governo Federal é a Undime. Há municípios que sozinhos não conseguem esse diálogo. Temos assentos nos órgãos mais importantes da Educação do país e fazemos a fiscalização e acompanhamento dos governos em relação às politicas educacionais”, explica.
Atibaia sediaria no final de abril um Fórum da Undime. “Já estávamos com 600 inscritos, seria no Hotel Tauá. Tivemos que suspender devido ao coronavírus. Estamos vendo uma nova data e esperamos que até lá já esteja tudo normalizado para acontecer”, comentou.

MOMENTO DIFÍCIL
Márcia conta que, nos dois mandatos como secretária de Educação, esse tem sido o momento mais difícil, pois as decisões mudam a cada momento e há ainda decisões difíceis a serem tomadas. “Trabalhar com educação nós sabemos, problema é lidar com questões como essa do coronavírus”, relata. Outra dificuldade tem sido o diálogo com o Governo Federal. “Hoje não existe política pública de Educação no governo federal. Tivemos problema com material didático fornecido com o governo federal. Eles estão mandando de forma insuficiente. Estamos com dificuldade de diálogo, até pela mudança constante de funcionários. Não existe continuidade nos diálogos. Temos conseguido conversar somente pela Undime nacional”, ressaltou.

POLÊMICAS
Márcia explica ainda que alguns projetos de lei municipais que envolvem a educação têm causado polêmicas. Um deles trata da escolha dos coordenadores nas escolas. O embate tem sido sobre a forma de eleição do professor coordenador. “Hoje ele é eleito por seus pares, que são professores. Eu já passei pela época, como professora, em que a escolha era pela Secretaria de Educação. Tinha uma bancada técnica da Secretaria que avaliava. Depois passou a ser escolhido pelos professores. Percebemos que nem a escolha de uma banca da Secretaria, nem a escolha pelos professores é o correto”, comentou Márcia.
A secretária diz que os 46 coordenadores que existem hoje na rede participaram da elaboração do projeto e estavam de acordo com as mudanças propostas. “Existe inclusive uma comissão de coordenadores que solicitou a mudança na escolha”, diz.
Segundo a secretária, o coordenador não é cargo, é função. “Ele é professor e exerce função de coordenador”. Pelo projeto de lei apresentado, mudou o processo de escolha do coordenador de cada escola. Não é mais escolha dos professores da unidade. Pela proposta, a escolha passaria pelo diretor da escola, técnicos da Secretaria de Educação e os professores validariam essa escolha, junto com o Conselho de Escola.
“Percebo que é mais movimentação política do que preocupação com qualidade da educação. Atibaia está em um patamar muito alto na educação e precisamos profissionalizar o trabalho do coordenador. Ele tem papel de liderança para apontar erros, orientar professores. Vemos que hoje o coordenador fica refém do voto do professor para continuar na função. Acaba não cumprindo a função como deveria”.
O projeto de lei estava na pauta da sessão de terça-feira, dia 17, mas foi solicitada a retirada da pauta. “O projeto impacta também no salário dos coordenadores. Teriam um aumento da gratificação. Agora, mesmo que seja votado e sancionado, a partir de 4 de abril não pode haver mais nenhum aumento de salário ou de gratificação por ser ano eleitoral. A gratificação valeria somente para 2021”, explica.
Enquanto o projeto dos coordenadores foi adiado, o projeto que trata da jornada de trabalho dos professores foi aprovado na mesma sessão. Agora professores terão dois terços da jornada para sala de aula e um terço para estudos. O salário também vai aumentar, pois haverá acréscimo de carga horária. “Era um pleito antigo dos professores essa carga horária para estudos”, diz Márcia.
Como o impacto na folha de pagamento será em média de R$ 6 milhões, o projeto prevê que só entrará em vigor em 2021, para que haja o planejamento do orçamento.

PROJETO PILOTO
A novidade que deve ser anunciada na Educação este ano, após passar a crise do coronavírus, é que Atibaia vai ter um projeto piloto do Governo do Estado, que é socioemocional. “É um dos maiores programas do mundo. Finlândia e EUA aplicam. Vai ser aplicado pela primeira vez no Brasil em Atibaia. Vai ser um projeto maravilhoso e a Prefeitura não vai precisar custear nada”, destaca Márcia.
A secretária disse que a formação das equipes já havia começado e o material está nas escolas, mas com as medidas tomadas em relação ao coronavírus, tiveram que adiar a continuidade da formação.

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