UMA BOLINHA DE GUDE

Seu Valdemar caminhava por uma das poucas ruas da cidade deterra batida,Dirigia-se a um banco para pagar uma conta. Viu então dois garotos abaixados jogando bolinha de gude.
Um dos meninos estava segurando bem firme a bolinha presa nos dedos indicador e polegar
Lembrou-se então de que era daquele jeitinho mesmo que ele segurava a bolinha quando jogava, nos seus tempos de menino.
Olhou seus dedos e contraiudois desses, o indicador e o polegar, imaginando uma bolinha por esses pressionada.
Abaixou-se e imaginou arremessando a bolinha em direção a uma covinha imaginária. Se alguém passasse por ali naquele momento, pensaria que ele fosse louco. Tinha a postura de quem estava jogando bolinha de gude, mas não havia nenhuma bolinha em sua mão.
Ele esticou os dois dedos, abriu a mão e arremessou a bolinha em direção à covinha imaginária.
Mas essa bolinha não podia cair numa covinha concreta, pois ali naquele pedaço de chão não havia nenhuma.
Entrou num buraco muito mais fundo.
A bolinha entrou no fundo buraco do tempo.
A bolinha despertou então em Seu Valdemar gratas lembranças de um passado bem distante.
Seu Valdemar voltou a ficar em pé.
Continuava segurando sua bolinha de gudeimaginária.
Aquele senhor idoso de seus sessenta anos começou a se lembrar então de um passado de sua existência quando era menino, muito tempo atrás.
Mas, nessa lembrança, ele não estava na rua onde estavavendo os garotos jogar.
Ele estava jogando bolinha de gude num local muito especial para ele. E num momento de que ele tanto gostava. A hora do recreio no grupo escolar.Lembrou-se, em seguida, que arremessou a bolinha e ela entrou novamente na última covinha o que o fez ganhar o jogo.
Depois, ele olhou para a janela da escola e viu o bedel, um senhor de cabelos grisalhos, puxar uma corda para fazer soar a sineta, que comunicava o término da hora do recreio.
Seu Valdemar despediu-se de seu amigo, adversário de quase todos os dias,de bolinha de gude, já que tinham agora que se separar, pois estudavam em classes diferentes.
Seu Valdemar lembrou-se agora que já tinha entrado na sala de aula.
Mas agoraseu pensamento mudou de foco. Fixou-se na professora. Dona Luci .De cabelos bem pretos, morena clara, bem baixinha. Aimagemdela ficou marcada em sua memória, apesar de já ter passado tanto tempo.
Ouviu a professora dizer bem alto os nomes de todos os alunos daquela turma, uns quarenta, na hora da chamada.
E os nomes daqueles meninos pronunciados pela professora e a resposta deles, os repetidos presentes foram se sucedendo, na lembrança do Seu Valdemar.
Até que a professor chamou o ultimo aluno da lista de seu diário de classe e encerroua chamada.
Todos os alunos estavampresentes. Que beleza! Cem por cento de assiduidade.
Em seguida, Seu Waldemar ouviu a professora falar seunome chamando para ler a primeira lição da cartilha
Seu Valdemar pegou a cartilha e a abriu na primeira lição. Lembrou-se da figura da pata na página do livro
Começou, em seguida,a ler a lição repetindo as frases lidas antes pela professora. Ele tentava ler. Algumas frases eram muito difíceis .Ele não as conseguia ler. A professora pacientemente o ajudava.
“A pata nada
Pata – pa
Nada – na
Pata- pa
nada- na.”
Seu Waldemar lembrou-se de que ficava envergonhado ao se expor lendo com dificuldade perante seus colegas.
Depois de Seu Valdemar completar a leitura da lição, a professora falou para ele sentar e chamou outro aluno para fazer a leitura.
Seu Valdemar olhou para fora da sala de aula, no pátio da escola.
Viuuma árvorefrondosa com lindas flores amarelas. Ele não sabia que árvore era aquela. Hoje ele sabe que se chama ipê.
Lembrou-sedepois dos acordes do Hino Nacional cantado pelos professores e alunos no galpão, antes de ir para a aula, nas vésperas de sete de setembro, dia da Pátria.
Aslembranças iam se sucedendo no pensamento do SeuValdemar e ele ficou tomado pela emoção.Era meio-dia. Naquele momento bateu o sino que marcava o fim do expediente escolar naquele dia.
Ele já ia indo para casa. Parou de pensar em suas lembranças de um passado bem distante despertadas por uma simples bolinha de gude.  Lembrou-se de que precisava pagar uma conta no banco antes de ir para o trabalho. E para o banco foi ele., com aqueles passos vagarosos, porém firmes.

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