Estudos permitem avanços na pesquisa sobre doenças debilitantes

Realizados na Unicamp, identificam melhores tratamentos para doenças como epilepsia, acidente cerebral vascular e esclerose lateral amiotrófica.

Pesquisa desenvolvida pelo consórcio internacional Enigma analisou o cérebro de mais de 3,8 mil voluntários de diferentes países com o intuito de descobrir diferenças e semelhanças entre a anatomia cerebral e os diferentes tipos de epilepsia. O objetivo é buscar marcadores que auxiliem no prognóstico e no tratamento. O Jornal da Unicamp, em texto de Maria Fernanda Ziegler, abordou o tema.
Outro grupo de pesquisadores busca, a partir da análise dos níveis de dois micro-RNAs de pacientes, marcadores genéticos que sirvam como indicadores de esclerose lateral amiotrófica (ELA) – doença que vitimou o físico britânico Stephen Hawking.
Um terceiro estudo, esse também sobre epilepsia, sugere que a desregulação no gene NEUROG2 estaria relacionada com o surgimento de displasia cortical focal – malformação cerebral que é uma das causas mais comuns de epilepsia refratária a medicamentos. Com a identificação desse biomarcador será possível indicar diferentes tratamentos aos pacientes epiléticos resistentes a medicamentos, como a cirurgia, por exemplo.

NOVOS MÉTODOS
E TÉCNICAS
Os três estudos contam com a participação de pesquisadores do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A professora Iscia Cendes, pesquisadora do BRAINN, afirmou que o objetivo “é desenvolver novos métodos e técnicas para melhorar o conhecimento sobre tratamento e prevenção de doenças debilitantes e condições que afetam o cérebro, como epilepsia e acidente vascular cerebral (AVC). Também temos interesse em estudar doenças que causam demência ou problemas motores, como é o caso da esclerose lateral amiotrófica (ELA)”.
SER HUMANO
É COMPLEXO
“O ser humano, assim como essas doenças que estamos estudando, é muito complexo. Por isso, acreditamos que fazer parte de consórcios e de parcerias seja a melhor maneira de alavancar novas descobertas”, disse Cendes. A pesquisadora afirmou que, desde o início da criação do BRAINN, em 2013, o número de projetos de big data em neurociência aumentou. São exemplos desses projetos a iniciativa BRAIN nos Estados Unidos, a Human Brain Mapping na Europa, a Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative (ADNI), a International League Against Epilepsy (ILAE) e o consórcio ENIGMA.
“Os esforços de big data se tornaram o modus operandi da neurociência, substituindo a ciência baseada em hipóteses e de menor escala”, disse. Não por acaso, Cendes afirma que os próximos projetos do BRAINN incluem avançar nos estudos longitudinais. “Esse é um dos nossos pontos fortes como grupo”, disse.

REDUZIR A LACUNA
Outro propósito do BRAINN é reduzir a lacuna entra a pesquisa biológica fundamental e sua aplicação clínica. Um dos vetores desse propósito é o Brazilian Initiative on Precision Medicine (BIPMed), iniciativa criada em 2015 por cinco Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
“O primeiro produto do BIPMed foi a criação de um banco de dados de genomas de pessoas saudáveis e com doenças específicas. Atualmente, são mais de 900 mil variantes genéticas depositadas no banco de dados”, disse. No banco de dados, estão depositados genomas ligados a encefalopatias epiléticas, anomalias craniofaciais, câncer de mama, surdez hereditária, neurofibromatose e em 2019 vai ganhar sequências ligadas ao lúpus.

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