TEMPOS DE ESCOLA

Quero mostrar hoje a meus caros leitores minhas recordações dos tempos de escola, em minha querida Atibaia.
Tudo começou na “Escola Particular Três de Maio, em 1950, onde frequentei o Jardim da Infância e minha professora era D. Araci Conti. No ano seguinte passei a estudar no Grupo Escolar José Alvim. Por cinco anos frequentei essa escola, que até hoje existe e sempre funcionou num grande prédio de construção térrea em forma de U, localizado na Praça Guilherme Gonçalves. Dotado de dez salas de aula, era bastante espaçoso, tendo um grande terreno no seu entorno, onde a gente podia brincar e correr à vontade na hora do recreio ou antes de entrar em aula. Lembro-me de vários colegas de turma daquela escola dois dos quais são atualmente  meus amigos: O Adalberto d’Alembert  e o José Luiz Teixeira.
Aquele espaçoso terreno era bem arborizado. Na sua parte superior, próximo ao portão de entrada dos meninos, havia um frondoso ipê, que a gente via de dentro de algumas salas daquela ala, e ficava então admirando, na primavera, as suas flores amarelas.
Eram várias as brincadeiras e jogos com que os meninos se divertiam na hora do recreio: a gente jogavabolinha de gude, bafo, brincava de pega-pega, unha-na-mula e outros de que não me lembro. De vez em quando a gente ensaiava também uma pelada. Isso só quando os bedéis permitiam. . O diretor, durante todo o tempo em que estudei naquela escola, era o Prof. Constantino Simões de Lima. Eu me lembro que esse saudoso diretor acompanhava  os acontecimentos futebolísticos, tanto em Atibaia como na capital paulista. Era um apaixonado torcedor do São Paulo e,em Atibaia, torcia pelo São João Futebol Clube,em cujo times se destacavam dois de seus filhos: o Zeca, ponta-esquerda, e o Robertinho,goleiro, naquela época dos chamados anos dourados, quando o São João disputava a Liga Amador de Futebol do Estado de São Paulo, do qual participavam também o Cetebê e alguns times das cidades vizinhas: Joanópolis, Jarinu, Piracaia e Mairiporã e o Voluntários, de Bragança Paulista. A rivalidade entre as torcidas do São João e Cetebê era uma coisa muito divertida, naquela época em que havia aquele futebol em Atibaia.
Mas não era só o futebol que o Prof. Constantino acompanhava. Ele era também ligado em outros esportes. Nunca mais me esqueço de um dia importante para o esporte brasileiro. Foi em 1952. Uma aula da D. Aracy Sales,a que eu assistia, no segundo ano, foi interrompida pelo Prof. Constantino para ele fazer este importante comunicado: o fundista brasileiro Adhemar Ferreira da Silva conquistou hoje a medalha de ouro e quebrou o recorde mundial, no salto triplo, nos Jogos Olímpicos de Helsinque.
Os hinos alusivos a importantes acontecimentos da história de nossa Pátria eram sempre cantados naquela escola, com acompanhamentomusical, nas suas respectivas datas comemorativas,antes de entrar em aula, num galpão onde todos os alunos ficavam perfilados. Eram o Hino Nacional, o Hino daIndcpendência e o Hino à Bandeira. Esse último, cantado todo dia 19 de novembro,era o de que eu mais gostava. Com letra de Olavo Bilac e melodia de Francisco Braga, são maravilhosas tanto a poesia como a parte melódica. Olhem:

“Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,

Eu estou cantarolando agora. O leitor que se lembrar da bela melodia, eu convido para fazer o mesmo. Afinal, quem canta os males espanta.
De todo o tempo que estudei naquela escola, a época mais feliz para mim foi, sem dúvida,o quarto ano. Acho que isso foi por causa daquela professorinha bem jovem, de baixa estatura e esbelta, de cabelos castanhos encaracolados, que só dava aula para meninos e que sabia tão bem cativar os alunos e sempre encontrava uma forma de os estimular a estudar. Lembro-me de que para incentivar os alunos, ela, todo mês,elaborava o chamado quadro de honra, no canto do quadro-negro próximo à janela. Era muito bonito c emoldurado com desenhos de flores coloridas. Nesse quadro ela relacionava os nomes dos três alunos que mais se destacaram. Ou seja, os que tiveram melhor desempenho nas últimas provas mensais. Eu, muito vaidoso como eu só, sempre fazia questão de figurar entre os primeiros e muito me esforçava nesse sentido. Isso acontecia também porque eu gostava muito de estudar.
Nas aulas de linguagem eu adorava fazer um exercício de redação: a composição à vista de uma gravura. Coloridas, as gravuras, em tamanho bem grande, uns 40 cm por 30cm, se bem me lembro, eram buscadas em alguma outra sala da escola e, presas num suporte, colocadas na frente da sala onde ficavam expostas, durante aquela atividade. Algo parecido como um calendário. Desses que a gente pendura em paredes. Eram umas dez gravuras e a professora sempre escolhia uma para a gente olhar e fazer a composição baseando-se naquilo que via. Lembro-me muito bem de algumas dessas gravuras. Numa havia um sapateiro, sentado à mesa de sua oficina, examinando um sapato, tendo uma garota a sua frente. Numa outra,era um menino correndo atrás de uma bola, ao lado de um cachorro também correndo. Numa terceira havia um menino sentado em um muro onde estava encostada uma escada, dessas de madeira, olhando para dois cachorros que queriam também subir nessa escada para trepar nesse muro. Havia também a casinha dos cachorros.
Esse ano, muito feliz para mim, encerrou-se com chave de ouro. Eu explico por quê.
No dia da formatura do curso primário realizada no Cine Itá,a minha tão saudosa professora dirigiu-se a mim lá onde eu estava com os meus colegas, no cinema, prontos para sermos chamados para receber o diploma, e me chamou para um cantinho do palco para me falar em particular. Ela estava com umpacote na mão embrulhado com um papel azul Cumprimentou-me efusivamente então e me recompensou pelo meu bom desempenho durante aquele ano letivo,oferecendo-me um presente. Eu fiquei bastante emocionado e muito agradeci. Depois que a professora se afastou, antes de os alunos serem chamados pra receber o diploma, eu, ansioso para saber o que era o presente, abri o pacote.Era um livro:LENDAS MARAVILHOSAS DE ALHAMBRA. Muito curioso, comecei a folheá-lo ena primeira página estava escrita, com aquela letra miudinha e redondinha que eu conhecia tão bem, a seguinte dedicatória:
“Ao estimado e aplicado aluno Luiz Carlos, uma recordação
de sua professora, que muito o estima.
Anecy
14/12/1955.”
Ate hoje, passado mais de meio século, tenho esse livro. Deixo-o na minha estante bem à vista para sempre visualizá-lo. Assim me estimula a evocar aqueles tão saudosos tempos!

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